terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Macário Ohana Vangélis

Os olhos do poeta
Sereno e ambíguo
E suas ideologias
Trançadas em um eterno rastafári
Que não se desfaz

Os gestos sutis
De sua capa ao vento
Ao vento vai
Em lento caminhar
Poetizar o sussurro da noite
Poeta soturno
No escuro a filosofar:
Por que amanhece?

E amanhece o dia,
É que não morre esta poesia
Que tu fabricas
Em teu louco pensar...

Ederson Rocha

sábado, 26 de dezembro de 2009

O rapaz sentado na escada...

O rapaz sentado na escada...
Lê um livro de poemas
Ninguém percebe
Está em seu horário de almoço
E toda atenção do rapaz
Ao ler um livro no trabalho
Há um quê de ousadia
As pessoas olham
Julgam conhecedor de algo
Santa ignorância!
A poesia não pragmatiza as coisas
Flui como as águas de um rio
E sem pretexto
Nem objetivo
Sabe exatamente aonde quer chegar

Nada sabe
Nem sequer sabe que não sabe
Sente
Inocente
Displicentemente lê
No ambiente em derredor
As pessoas lêem apostilas de concursos públicos
Livros de auto-ajuda
E não se ajudam
Olham com desdém o rapaz
Lendo o livro, distraído
Sem dar conta do horário de almoço já acabar...

Ederson Rocha

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ÁLCOOL



“Eu bebo pra esquecer.”

– Alcoólico Anônimo



Hoje o álcool me dá coragem

De falar o que tenho vontade

E até o que não quis dizer



De sorrir


De chorar


Por pra fora


De soltar a criatura que aflora

De dentro do que eu finjo ser



Hoje o álcool me liberta pro mundo

Mas quando estou são me pergunto:

Pra ser livre eu preciso beber?


OUSADIA


Ousa sonhar

Ousa criar

Ousa pensar por si mesmo?



Ousa crescer

Ousa viver

Ousa ser você mesmo?



Ousa não sentir medo

De ao pular não bater no rochedo


Da ignorância


Da intolerância


Do preconceito?



Ousa fazer do seu jeito

Sem querer a ninguém agradar?


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Boal, O Sapateiro e o Poeta

http://www.youtube.com/watch?v=dsIa0B_eVIs&feature=player_embedded

Em Memória como Tributo
Para a série dos nossos Sapatos

Crio
Não por obrigação
Nem por compulsão
Crio
Por satisfação
Crio
Então
Porque
Creio
Crio
Porque
Cri
Crio
Um
Chris

Meu Eu É Todo Um Pleonasmo




















Quando acordo para a realidade
Sei que meu sonho se realiza;
Metade de mim é que acredita nisso
E a outra metade faz um compromisso.

Se penso que posso mudar o mundo
Sinto-me tenso e atentando a tudo;
Metade mim é uma poderosa bomba
E a outra metade explode e assombra.

Pois se eu decido que vou amar alguém,
De olhos fechados, boca aberta e refém...
Metade de mim se doa a este intuito
E a outra metade já se toma por fortuito.

Metade de mim é um desejo raro
E a outra é um violento faro
Da minha metade de mim que quer ação
Pra outra metade executar a transformação.

Assim, metade de mim é meu próprio fragmento
E as outras metades são somente alimentos
Dos meus
Desmantelamentos

Desmache de lamentos.
Desfacelamento.
Cancelamento
Do cancelamento.
Aumento!
Manto,
Mente,
Minto,
Monto,
Mundo...

Metade de mim só quer viver até morrer
E a outra metade quer o eu que sou você

A Metade da Metade pela Metade:
São todas elas uma só verdade!

...

Me invade!
Me alarde!
Me arde!
Me deu!
Me Eu!
Ué?!
MEU!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Entrelace


Lembro que chovia

e os meus sapatos se encheram de lama

um aperto só: quase não havia lugar

a bebida não prestava

a música era ruim

a gente, vulgar

mas não é que no fim das contas

eu estava

com quem eu queria estar?

Lidiane Santana

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PRECOCE



─ Olha filho, que dia bonito! E você? Não vai brincar com seus amigos?

─ Não posso...

─ Por quê?

─ Estou pensando...

─ Pensando em quê?

─ Na vida, mãe, na vida!

─ Você? Pensando? Na vida?...Quer me matar de rir, menino? Ai, ai...

─ É sério, mãe! A vida é tão curta e eu tenho que...

─ E você só tem nove anos, esqueceu?

─ Nove e meio, quase dez!

─ Mas qual a razão desse abatimento? Diz aqui pra mãe, diz.

─ Estou tão desiludido da vida...

─ O quê? Não acredito que estou ouvindo isso, disse a mãe desatando a rir.

─ Não ri, mãe! Tô falando sério, meu! Cansei dessa vidinha sem graça. Eu queria revolucionar o mundo, sabe? Fazer alguma coisa notável; deixar a minha marca. Queria ser “O cara”, entende? Ter uma estátua minha, uma rua com o meu nome, um quadro meu... só sei de uma coisa: não quero ficar anônimo pro resto da vida!

─ Como assim? Quer virar celebridade?

─ Ah, mãe! Mais ou menos, viu...

─ Como mais ou menos? Você não quer é ser famoso, ser artista de cinema?

─ Não; eu não queria ir pra Hollywood, eu queria coisa ainda melhor. Ser como Einstein, Leonardo da Vinci, como Beethoven... ter uma grande obra , um grande feito.

Assim, iam “pagar pau” pra mim pelo resto da eternidade!... Pelo resto da eternidade! ─ repetiu dando ênfase.

─ O que é isso, Lucas? Quem te ensinou estas coisas? Com a sua idade as minhas preocupações eram: ir pra escola, brincar, fazer a lição de casa e só. Ah! E me comportar, ser uma boa menina, se não o Papai Noel não dava presente no fim do ano.

─ Papai Noel não existe! É tudo marketing, pra fazer comercial na TV e todo mundo ir torrar o décimo terceiro no shopping. Pensa que eu não sei, é?

─ Ai filho... você é uma figura!

Nesse momento a porta se abre.

─ Eduardo, ainda bem que você chegou. Tem que ouvir isso. Imagina que esse menino...

─ O que foi dessa vez, Luiza?

─ Não sei, não. Ele anda com umas idéias esquisitas...

─ Semana passada ele disse que ia se casar com aquela coleguinha de classe. E agora?

─ Ele disse, (vê se tem cabimento) que estava “desiludido da vida” e também que quer revolucionar o mundo, ser “O cara”... cada ideiazinha...

─ Me explica isso direito, quero ver se eu entendo. Você disse que ele...

(O filho interrompe a conversa)

─ Com três anos de idade, Mozart já arrebentava...e eu que já sou um homem feito não sei fazer nada. Não me conformo! Quero ser grande, importante...legal, irado, sabe?

─ Mas você já é filho, dizia o pai todo coruja. Tão bonito tão inteligente que você é. O orgulho do pai!

─ Não, pai! Eu queria ser importante como os caras que estão nos livros que você comprou pra mim; aqueles que a professora tanto fala! Ser um grande gênio, sabe?

(A mãe chama o pai a um canto)

─ Eduardo, isso é culpa sua! Você trouxe aqueles livros e mandou ele ler ( como se não bastasse o que ele aprende na escola) aí, ele enche a cabecinha de coisas. Não é mais como os outros garotos da idade dele: não quer sair, nem jogar bola, só fica o dia inteiro lendo ou pesquisando no computador. Passa o dia inteiro, como ele diz “na net”.

─ Eu só quis dar a ele um pouco mais de instrução que nós não tivemos, defendeu-se.

─ Ele é meio ─ justificou a mãe entre preocupada e confusa─ meio, meio...esquisito...

─ Esquisito, não: diferente! ─ interrompeu o pai

De repente, entra o filho na sala todo saltitante e grita:

─ Já sei vou assassinar alguém! ─ disse, com a maior naturalidade desse mundo─ quem sabe o presidente, não sei...

Os pais, boquiabertos, entreolharam-se brancos de susto.

─ Co-mo-é-que-é?!

O menino repete a idéia que teve .

Silêncio; quebrado pela mãe:

─ Está louco por acaso? Não diga isto nem de brincadeira.

─ Que idéia é essa filho? ─ enfim indagou o pai.

─ É que eu quero ser grande, pai!

─ Grande? É, já sei ...ah, sim! E ser um assassino é ser grande? Ahã...muito bonito...

─ Se conseguir matar alguém importante, sim! Eu entraria pra história. Meu nome em todos os livros, revistas, manchetes de jornais... pra sempre!

─ Moleque! Nunca ouvi tanta besteira e você não sab...

─ Ah, é? O cara que matou o presidente Kennedy, não ficou famoso? E o cara que matou o John Lennon, então hein?

─ Sim, sim claro! Vá em frente, mate, mate. E depois que ficar “famoso” “O cara” o que vai fazer ? como vai viver na prisão e sendo odiado por tanta gente?

─ Não sei! Eu sou só um menino: só tenho nove anos!

─ Tem nove anos e meio, quase dez ─ disse a mãe─ e, agora pouco, você disse que já era um “homem feito” lembra-se?

─ Mas vocês não me...

O pai toma a palavra:

─ Filho, olha aqui pra mim. Escuta: tudo bem que você queira ser alguém na vida, queira ser reconhecido. Mas você não precisa ser igual a ninguém e nem provocar escândalos e tragédias para aparecer. Deve se destacar, sim! Mas pelo que você é. E sabe de uma coisa?

─ Quê?

─ Pra mim você pode ser o que quiser: cientista, escritor, filósofo, advogado, músico, pintor, cozinheiro e até gari. Mesmo se não tivesse profissão e não fosse ninguém, quer dizer, ninguém pra esse mundo, eu me orgulharia de você. Pois eu não preciso ver o reconhecimento dos outros pra me convencer de que você é o mais importante, que é grande, que é o melhor do mundo!

E deu um abraço apertado no filho.

─ Vai brincar, vai. Você ainda tem muito tempo para decidir o que vai ser na vida. Deixe de ser precoce, menino! ─ disse em tom juntamente repreensivo e doce.

─ Vamos meu prodígiozinho, brincou a mãe.

Na manhã seguinte (de domingo) o pai se encontrava na varandinha da modesta casa, lendo costumeiramente o seu jornal, quando o filho veio o interromper:

─ Pai, o paiêêê!

─ Tão cedo? Caiu da cama, menino? E vem assim: descalço. Aposto que ainda nem escovou os dentes.

─ Não. É que eu tinha uma coisa pra te contar; não dava pra esperar não.

─ O que é, hein? Vê lá...

─ Já sei...

─ Já sabe o quê?

─ O que vou ser quando crescer.

─ Ah...

─ Vou ser...

─ Escritor? Ah! eu sabia...

─ Não!

─ Não?

─ Não.

─ E o que vai fazer pra ser grande, pra ser importante, “O cara” como tanto diz?

─ Eu vou ser um pai legal que nem você é.

Lidiane Santana



Não sei se todos conhecem, por isso postei. Escrevi isto quando tinha dezessete para dezoito anos. Nessa época eu ainda sonhava em constituir família. Agora sei que ter filhos é uma grande cilada e apoio o controle de natalidade, longe de mim fazer apologia a reprodução nesse mundo superlotado e exausto, nem almejo idealizar um mundo cor de rosa. Não tenho o menor interesse em ter um pirralhinho dependente de mim (por inúmeras razões), mas admiro os bons pais e ainda guardo este texto. Os valores mudam, mas a ternura fica.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Audição

Lá estão os dedos
Perfurados
Que perfuram
O couro
Sobre a mesa
A tesoura e o estilete
Sobre a alma
O peso de costurar o amanhã
É manhã
Como qualquer outra

Ouve o silêncio que está lá fora
Ouve!
Ouve o silêncio que pela alma corre
Ouve!
Ouve o zumbido que ecoa do ouvido
Ouve!
Ouve as máquinas no seu sem sentido
Ouve!
E canta com elas melodias tenebrosas
E ouça sua própria voz se confundindo com o motor
Ouve!
Mas não ouça os seus pensamentos
Não ouve!
Pois quando ouvi-los
Irá chorar
E pensar
O que houve de haver
E nunca haverá nada do que houve
É vida o que você perdeu nesta manhã
E amanhã?

Pegue a fôrma
A que deforma
E vejo onde seu pé se encaixa
Mas não coloque nele
Os seus sonhos
Seus pés estão sujos
Seus pés estão sujos...

Erga a cabeça
Olhe adiante
Diante da janela
É o Sol
Ele sempre brilha
Mas este vidro escuro não percebe
Não percebe
Não!

É o fim
É o fim de um futuro final
É o fim de um instante
É o fim de tudo
É o fim do expediente
E a vida só volta amanhã
De manhã
Ouve!
Não Ouve?
Não!
Não há de haver o que houve ou haverá

E o sapato em que pé está?

"Meu sapato quem será que o calçou?"

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

LACUNA


Tem o honroso silêncio
de um instrumento abandonado
sobre os móveis esquecidos
no desespero que exala
dessas casas em ruínas
rentes paredes despidas
parecem se desfazer
lustres cobertos de pó
sem resíduo algum de luz
grossas portas a desmanchar
Sem razão, aberta a janela:
vidraças despedaçadas
disperso nessa penumbra
um mal serenamente cálido
se alimenta e refugia
à sombra do que outro dia
foi uma sala de visitas
nalgum lugar da memória
alguém me serve o chá
que ao primeiro gole é acre
como essas lágrimas ácidas
que agora me ardem na face
mas bem no canto dos lábios
persiste um lamento doce
A Saudade é uma dor que é como se não fosse...

Lidiane Santana, do livro MÁCULA, Clube dos autores 2011.
Adquira seu exemplar:

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Da compreensão precoce da vida...

O que vai tão cedo pra guerra
Pergunta-se no meio de tudo
Em quê vale os sonhos q ’ela enterra
Sempre preso em algo absoluto

Existência que transcende a circunstância,
Por que os valores se dissolvem?
Diluem-se em outras estâncias
E é quando os sonhos nascem

Mas são coisas tão absurdas
Revelar na vida os sentimentos humanos!
As pessoas anseiam, é grande a turba
Que não enxergam na vida o próprio engano...

Ederson Rocha

O poeta é o cão do seu tempo. (E pode roer teus sapatos também.)


Elias Canetti


"O verdadeiro poeta, porém, o poeta tal como o imaginamos, está subjugado ao seu tempo, do qual é vassalo e lacaio, seu servo mais baixo. Encontra-se atado a ele com uma corrente curta e ilacerável, está preso a ele, sua falta de liberdade precisa ser tão grande que ele não possa ser transplantado para nenhum outro lugar. Sim, não fora certo sabor ridículo diria simplesmente: o poeta é o cão do seu tempo. Passa correndo por seu território, para a aqui e acolá; aparentemente por vontade própria, porém sem se cansar, suscetível a assobios vindo de cima, mas nem sempre, é fácil atiça-lo, difícil chamá-lo de volta, ele é movido por uma devassidão inexplicável; sim, mete o focinho úmido em tudo, não deixa nada de fora, e também volta, recomeça, é insaciável; de resto, come e dorme, mas não é isso que o distingue dos outros seres, o que o distingue é a assombrosa pertinácia do seu vício, esse usufruir intenso e minucioso, interrompido pela correria; assim como nunca está saciado, nunca consegue o que quer com a rapidez necessária; é como se tivesse aprendido a correr expressamente por causa do vício do seu focinho."


“E esse mesmo cão, que durante toda a sua vida corre atrás dos desejos de seu focinho, esse fruidor e vítima involuntária, ao mesmo tempo caçador e presa do prazer (…) deve, num átimo, estar contra tudo, pôr-se contra si mesmo e contra seu vício, sem, contudo, poder jamais libertar-se dele (…); uma exigência tão cruel e radical quanto a própria morte. / É, aliás, da morte que deriva essa exigência. A morte é o fato primordial, o mais antigo e, estar-se-ia mesmo tentado a dizer, o único. Tem uma idade monstruosa, mas se renova a cada hora”




Elias Canetti, “Hermann Broch”, em A consciência das palavras - Tradução: Kristina Michahelles


domingo, 13 de dezembro de 2009

A MÁQUINA

Poema premiado no concurso Alfredo Palermo do CIEE de Franca.

Pesponta de ponta à ponta
E cola a sola e descola
E fica pronta o que apronta,
Mas só rola se o isola.

Quando monta já faz conta
E se’sfola e roda-bitola.
Quem me conta é uma tonta
Que rebola e não me amola!

O riso fácil, ágil; é difícil!
Um friso de cálcio: Um artifício.
Como um guiso farto do seu ócio.

No suor que corre, escorre vida.
Como quem morre pior e ainda
Já não se vinga: Nem há divórcio.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Da série: sapatos famosos


JAZZ

sobre o que me vai na alma sobre
sob o que vaia n'alma: assombro
um som de sax e lábios vermelhos
e um desejo de confessar um dos inconfessáveis:
_Eu...
Thelonious Monk sorri da minha imprudência
e me lembra que a vida é uma tragédia com calda de caramelo
ao meu redor o município de Mauá gira como uma baiana da escola de samba no grupo de acesso
e eu cometo esse poema como o menino que jura a Deus não mais se masturbar
Thelonious
marca o compasso com seu sapato lustroso, combinando em nada com a toquinha de lã
ele é Deus, o piano é o Diabo e nós somos a música
este acorde, por exemplo,
era eu.
JdB
Outra coisa!
Fiquem à vontade para sugerir outros sapateiros para engrossarmos nosso sindicato.
Para os novos: uma "regrinha" que a gente estipulou logo no começo: comentar os textos uns dos outros, então, postar aqui é por a cara a tapas (ou a sapatadas). E pra quem quiser, ainda está em aberto o eixo temático "SAPATOS FAMOSOS" eu gostei do que foi produzido, acho que dá até um fanzine e o Chris poderia até procurar um patrocínio em Franca.

Abraços
Viva a Taba e Evoé, Baco.

JdB
RECADO DO ADMINISTRADOR

Sapateiros!
Já que há tanta energia solta no ar, sugiro que escolhamos algum inimigo em comum para concentrarmos nossas sapatadas. Não gostaria que repetíssemos aqui as discussões da Semana de 22 ou do Congresso Regionalista do Recife, seria árido, chato e inútil. Ao invés disso, sugiro que retomemos aquelas provocações sobre TAZ e Luther Blisset, e que pensássemos seriamente em ações conjuntas efetivas, visuais e ousadas. Que tal?

Um abraço!
Viva a Taba e Evoé, Baco.

JdB

O NÃO-POETA



Se a poesia já não faz sentido

Se não dá mais ouvido

Ao clamor dos mais fracos


Não é poesia o que faço!



E se o amor

E a dor que confesso

Já não cabem no verso,



Ser poeta: é o que quero?



Se ao fazer poesia

O que penso e sinto é o que expresso



Se ao fazer poesia

Eu só sei ser sincero...?


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

POBRE RIMA

Havia um menino
que desde pequenino
se sentia sozinho
em seu próprio universo

E aquilo que sentia
e mais ninguém compreendia
o menino escrevia
num caderninho de versos.

E tudo lhe inspirava

O beijo que não recebeu
do seu primeiro amor.

A surra que lhe deu
o padrasto ditador.

O desprezo que não mereceu
da mãe que tanto amou.

E assim foi crescendo
vivendo e aprendendo
mas não entendendo

por que a vida lhe era ingrata
por que só ele achava graça
em dar e receber.

Até que um dia descobriu
o por quê não se encaixava:

pertencia a outra raça
conhecida por POETA
uma espécie de profeta
Que prega amor e paz.

Então disse a si mesmo:
“Chega desse mundo horrível
que só tem gente insensível,
que não pensa em ninguém mais

nem que leva a vida inteira
vou achar uma maneira
de encontrar os meus iguais.”

Para sua felicidade
soube que havia na cidade
um recital acontecendo

e sem conter o entusiasmo,
caderninho em baixo do braço
dirigiu-se ao evento.
lá chegando encontrou
uma TRIBO reunida
numa festa esquisita
conhecida por SARAU

ele, atento e calado
assistiu ser recitado

poemas diversos
de palavras sem nexo
que nada lhe diziam

Perguntou-se: “O que sentiam
escrevendo algo assim?

Cadê o amor, a amizade
a paz, a luta pela igualdade
cadê a POESIA, enfim?”

então um mestre poetista
lhe explicou por que diferia
o que era recitado
do que ele havia imaginado:

“Esse sentimentalismo
amor bobo de menino
rimas pobres,
intenções nobres
não tem lugar mais aqui não

Para ser contemporâneo
ao se fazer literatura
não é necessário métrica,
rima lógica ou censura

não se requer nem coração!

É só falar o que vier na telha
Assim, de qualquer maneira
O absurdo é que é bom

seja abstrato, hermético,
use parênteses, colchetes e cortes
da crença alheia, deboche
e certamente alcançara o sucesso.”

E rapaz obsorveu
A lição com tal cuidado

que hoje é escritor premiado
vinte livros publicados
Cheio de menções honrosas
E poesias, nem tão fabulosas.

- Marcos Roberto Moreira

Link para o Blog Pulsarte!

Link para Aventuras do cotidiano Fantástico

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ECOULTIMOATO

Estou cansado de escrever
Ler

Poetas não sabem de nada
São uns merdas
Tentando se defender com justificativas vãs

Senhores donos de verdades tão absolutas quanto a bosta que eu
Fiz
E se foi
E não voltou mais
Mau
Pro colo dos animais
Miau
Auauau
Nem deu tchau!

Estou insatisfeito com a vida de literato
Com o "coma" da vida dos literatos
Como eu como os literatos
E intelectuais e sábios e gênios e monstros sagrados de Umbanda?

Gente que nem ao inferno se oferta
Se ofenda
Oferenda
Que se foda
Quem quer fodas?

Escrevi para não ler
Mas se lerem
Devem me desprezar

Chorar sua sorte
Rir do meu azar
Lamentar, sublevar e lamentar

Um poeta deve se alienar
Se desligar
Se desvencilhar
Se cortar
Rasgar
Largar de mão
Qualquer caneta, lápis, borracha, sensação

Qualquer poesia é um sermão

Qualquer dia ainda quebro sua mão
Sua mente
Sua cabeça
Sua pupila
Seus ouvidos
E seu pênis metido
Na sua vagina alheia

Poeta, poesia, musa, maresia e sereia

Hoje eu quero matar alguém
Por prazer de torturar
Por prazer o sacrificar
Pro meu prazer e do meu bem

Mas como isto não é possível
(Amanhã acordo esquecido do que passou, com medo do que virá e poeta como sou)
Só faço o "impalávrel"
Cuspo letras e digo ser arte
Escarro na sua cara, seu olho, sua mente e qualquer parte

E penso:

Ser poeta é ser divindade!

Grande bosta deve ser o ser que é um ser em Deus
Pobre são os pacatos pecados meus
Eu's
Eu's
Eu's
Eu's...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A origem do caos

Nas metrópoles
Cada um
Olha para seu próprio umbigo

Nos subúrbios
Cada um opina
A atitude do vizinho

E, no entanto
Todos
Sem distinção de classe, credo ou cor
Habitam em seu mundinho

Ederson Rocha

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Despertar...

escrevo um poema para meu sonho
ver a vida com essência
e toda beleza que se perde
no curso do tempo,
escrevo o poema

sobre o olhar de um susceptível cosmopolita
a vida atual é a circunstância
da imagem interior que se reflete
em nossos atos
a cada instante


ao ouvir o som de cada passo
em direção a rotina insuportável
que a vida ritmada conduz
e mecaniza os atos, fere
como um punhal que atravessa o peito
no entanto...

escrevo o poema para meu sonho
quando vejo tão real
a circunstância pela qual escrevo

e a realidade é tão clara
e produz uma vertigem
mas os olhos cegos ainda não sabem filtrar
toda imagem que fica retida
no abismo interior já mecanizado

tudo isso é a minha loucura
e me obriga a aceitar
somente o que se vê e é palpável
opondo-se a uma absoluta idéia
de que tudo é amplitude
a amplitude de tudo parece incognoscível

pois ainda escrevo um poema para meu sonho
antes de dormir,
no meio de tudo, querendo apenas acordar...
Ederson Rocha

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Alhos e Bugalhos

Vejo-me em noite sombria
Algo cheira a enxofre
E o ar carregado, sinistro...
Aonde foram as esperanças?

Seria um descuido meu
Ou só ilusão,
Vertigem?
Onde está a Terra
Ou as pessoas...
Será que estou no inferno?
Ardem-me as chamas,
Ou estaria confundindo...

sábado, 21 de novembro de 2009

Faz tempo

Sonho sempre sobre o sol
Sentado sinto
A sombra sobre mim
Sob a sola
Sou a sobra
OBRA

Tenho tanto tempo
Tudo tenho
Todo tempo
Tanto tido
Trancafiado trinco
Tísico start
ARTE

Bando de Bobo
Brincam
Batem
Bolam um bico
Beijam
Bica
Birita
Bituca
Boca barrenta
Buca
Cumbuca
Cumbica
VIDA

ACABOU

Chris Clown

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

preciso de sapatos novos




Edson Bueno de Camargo


dos que não apertem os pés
para o conforto
de caminhar junto de meus irmãos
e chegar e ficar em qualquer lugar
para que não existam cercas
que nos impeçam de andar

preciso de sapatos que voem
para que nunca se esqueça a utopia
muito menos a graça
que se acredite no novo
caminhando de mãos dadas com o velho

preciso de sapatos arados
que sulquem os campos
e estes não tenham donos
e a semente que se colher
na divisão
alimente a mim e aos meus
que nunca falte um lugar à mesa
para se compartilhar

preciso de sapatos água
que cavem poços fundos
e do que botar
a sede de todos se possa saciar

preciso de sapatos palavras
para que assim que não falte pão
não falte poesia em nossa casa
e a palavra seja de todos
que dela necessitar
e meu poema não tenha dono
seja da boca que o usar