quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

POBRE RIMA

Havia um menino
que desde pequenino
se sentia sozinho
em seu próprio universo

E aquilo que sentia
e mais ninguém compreendia
o menino escrevia
num caderninho de versos.

E tudo lhe inspirava

O beijo que não recebeu
do seu primeiro amor.

A surra que lhe deu
o padrasto ditador.

O desprezo que não mereceu
da mãe que tanto amou.

E assim foi crescendo
vivendo e aprendendo
mas não entendendo

por que a vida lhe era ingrata
por que só ele achava graça
em dar e receber.

Até que um dia descobriu
o por quê não se encaixava:

pertencia a outra raça
conhecida por POETA
uma espécie de profeta
Que prega amor e paz.

Então disse a si mesmo:
“Chega desse mundo horrível
que só tem gente insensível,
que não pensa em ninguém mais

nem que leva a vida inteira
vou achar uma maneira
de encontrar os meus iguais.”

Para sua felicidade
soube que havia na cidade
um recital acontecendo

e sem conter o entusiasmo,
caderninho em baixo do braço
dirigiu-se ao evento.
lá chegando encontrou
uma TRIBO reunida
numa festa esquisita
conhecida por SARAU

ele, atento e calado
assistiu ser recitado

poemas diversos
de palavras sem nexo
que nada lhe diziam

Perguntou-se: “O que sentiam
escrevendo algo assim?

Cadê o amor, a amizade
a paz, a luta pela igualdade
cadê a POESIA, enfim?”

então um mestre poetista
lhe explicou por que diferia
o que era recitado
do que ele havia imaginado:

“Esse sentimentalismo
amor bobo de menino
rimas pobres,
intenções nobres
não tem lugar mais aqui não

Para ser contemporâneo
ao se fazer literatura
não é necessário métrica,
rima lógica ou censura

não se requer nem coração!

É só falar o que vier na telha
Assim, de qualquer maneira
O absurdo é que é bom

seja abstrato, hermético,
use parênteses, colchetes e cortes
da crença alheia, deboche
e certamente alcançara o sucesso.”

E rapaz obsorveu
A lição com tal cuidado

que hoje é escritor premiado
vinte livros publicados
Cheio de menções honrosas
E poesias, nem tão fabulosas.

- Marcos Roberto Moreira

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13 comentários:

  1. Tem uma questão de concordância de número do verso 46, "assistiu ser recitado", se for do jeito que está se refere aos versos do menino, se colocarmos no plural, serão os versos dos outros que faz mais sentido. uma vez que o poema é uma aparente crítica aos versos dos outros.

    O uso da expressão "hermético", de o o Aristides Theodoro gosta tanto, é inadequada, uma vez que hermético se refere aos deus Hermes, que é o deus abre os caminhos. a visão moderna de hermético, se deve ao culto de Alexandria a Hermes Trimegisto, o pai da alquimia; no século XIX Rimbaud fala da alquimia do verbo, aplicando esta ciência antiga à palavra e a poesia.

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  2. "Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho", Clarice Lispector

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  3. Camarada a Taba está tomando tanto pau nesta última semana que estou até tonto, passei um calendário para o ano que vem e ninguém respondeu, estou pensando que o ideal é não fazer mais nada.

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  4. Detesto a visão que tudo tem de ser unilateral e de pensamento único, vivemos em um mundo de diversidades e complexidades, por que se não concordo com você ou não faço igual a você tenho que deixar de existir?
    Há espaço para todos se expressarem, o meu poético pode conviver e coabitar com o seu e vice-versa.

    A diversidade é um direito constitucional e uma prerrogativa dos direitos do homem. A massificação de idéias não útil a ninguém que goste da arte. Se todos fizermos igual, qual a graça de fazer um poema?

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  5. Ainda bem que Dona Deise não passou por aqui, pois iria apontar muitos erros de ortografia. É muito bom se deixar levar pela inspiração, mas todo cuidado com nossa bela Língua Portuguesa deve ser tomado.

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  6. Bem vindo, sapateiro Marcos...
    Há muitas coisas de que gosto no seu poema, mas eu acho toda essa discussão velha demais. Eu acho genial a Alquimia Verbal Rimbauniana, mas porque não posso achar genial também a poesia matuta do Patativa? Se eu faço cordel, soneto e experimentos concretistas, qual o problema?
    Quanto a Taba, Edson, eu ouvi algumas queixas dos integrantes mais jovens, e acho que esse poema do Marcos é o melhor exemplo disso... acho que a voz dele deve ser ouvida e considerada. Antes de abandonar tudo, acho que a gente deveria reunir a galera e discutir os rumos do grupo... Sugiro até o tema desse encontro deveria ser: "Qual o papel de um grupo literário em uma cidade de analfabetos funcionais" e que deixemos de lado toda a baboseira sobre "provincianismo" ou "hermetismo"
    Abraços a todos os sapateiros

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  7. E, Chris!
    Venha buscar seus livros! Estou me mudando para São Paulo e vou alugar o salão.
    Abraço por trás.

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  8. Bom saber que criei tanta polemica!!!

    A respeito da critica sobre formas e formas de se fazer poesia, essa é minha opinião pessoal, tem a ver com o que gosto de ler e escrever, já q não procuro nada além da minha própria satisfação. Não bebo café, não como pepino, mesmo que outros achem uma maravilha.
    E se não gosto, defendo o direito de dizer o porquê! Se não concordam, otimo! Os comentários ficariam sem graça se houvessem apenas elogios e criticas positivas...
    (mesmo assim, valeu Cris pelo apoio).

    Qto ao hermetismo, li Promethea de Moore, uma espécie de tratado em quadrinhos sobre arte e filosofia. Nele, Moore aborda a fusão pagã do deus Hermes/Grego com deus Toth/Egpício que deu origem ao termo “hermetismo”. Mas a forma como abordei o hermetismo não se contradiz com sua origem já que entre as leis herméticas encontram-se estas: "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados", ou seja, o hermetismo defende segundo essa e outras leis, o duplo sentido, a interpretação pessoal, a subjetividade, ou segundo a Professora Deise, “o uso de Figuras”. Talvez tenha tratado o termo de forma pejorativa, mas era justamente esse o objetivo.

    E o erro de concordância, realmente existe. Mas como o poema foi construído em “rimas pobres” para acentuar a premissa básica dele (o rimador simples que se rende ao um estilo pré-moldado), não vejo problema sério nele (mas vou concertar nos meus arquivos, obrigado Edson). Já os erros de ortografia, além do proposital “poetista”, meu amigo Word não me apontou mais nenhum. A não ser que a Sra. Assupção ache algum que o Word deixou escapar. Em todo caso a culpa é toda do Bill Gates!

    E a Taba, sou um fã confesso dela. Não naquela velha estrutura não-organizacional, mas na atual mesmo, onde podemos aprender em oficinas com pessoas como Bira e Vitória. O que defendo, de forma contraditória, é verdade, é a não-homogeneização - não tenho que escrever sonetos, surrealismo ou temas sertanejos. Eu escrevo ficção cientifica e faço poesia que talvez seja poesia apenas para mim mesmo.
    A contradição fica por conta de eu mesmo não aceitar alguns tipos de estilos poético-literários. Mas não quero forçar ninguém a concordar comigo. Simplesmente acho chato!

    Agora, sentarmos e refletirmos sobre o papel a Taba, dando voz às sugestões dos mais jovens, que tem sido imprescindíveis a atual existência do grupo, é realmente necessário, conforme salientado pelo Jorge.

    Bom, coloquei outra poesia aí em cima.
    E como nos pediu o Jorge, vamos botar fogo na BAGAÇA!!!!

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  9. Por Hermes e Loki, como gostaria que os mais jovens assumissem de uma vez. Há muito, desisti de ser o cacique da tribo para ver que rumo as coisas tomavam, e tudo ficou tão igual, que senti a cobrança pessoal de fazer alguma coisa( e não fiz nada). Participei como espectador o tempo todo,e confesso-me cansado e velho para discussões. O que mais quero é sossego, temos o ano que vem em aberto, qualquer coisa pode acontecer, ou deixar de acontecer. Tudo isso que fazemos ou não é tão pouco perto o monstro que nos esmaga que se chama mídia e homogeneidade.

    Se conseguisse abandonar a poesia, sentiria o alívia dos que chegam à morte.

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  10. Gostaria que as oficinas fossem mais encontros de amigos que qualquer coisa. Eu sinto uma necessidade de mostrar o que escrevo, e estou aberto a qualquer crítica desde que fundamentada, para que possa tirar proveito e melhorar.

    Quanto aos poemas "herméticos", palavra que acho inadequada, acontece depois que se escreve muito ( sou extremamente prolixo), querer esperimentar novas formas do escrever.

    Odeio a homogeneidade e qualquer forma de pensamento único.

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  11. A Taba para mim tem sido um peso, sua morte é a minha sorte.

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  12. "Qual o papel de um grupo literário em uma cidade de analfabetos funcionais". Esta é uma discussão que gostaria de ver tocada, em duas perguntas eixo: escrever poesia por que? e escrever poesia para quem?

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