terça-feira, 30 de março de 2010

Crônica




“Esta sarna de escrever, quando pega aos cinqüenta anos, não despega mais.Na mocidade é possível curar-se um homem dela;”


Machado de Assis



Escrivaninha


Escrever é a coisa que mais me agrada entre todas as coisas. E por inúmeras razões. Uma delas é pela disponibilidade – que não leiam ‘facilidade’, escrever dá um trabalho do cão! – Bem, digo disponibilidade, pois não é preciso de grandes instrumentos ou lugares apropriados para esse nobre intento, que para mim é de um deleite indescritível. Tampouco preciso de um horário certo para exercê-lo. Acontece às vezes, da inspiração vir agitar-me na hora de dormir. Acendo a luz, debruço-me na cama mesmo e escrevo. Ou, então, se há perto algum aparelhinho mais moderno, digito ou gravo algumas idéias. Escrevo comodamente na sala, na cozinha ou em qualquer espaço da casa. Escrevo caminhando pela rua, no ônibus, no metrô e no carro, quando calam a boca (se não calam, escrevo mesmo assim). E nem preciso de um silêncio sepulcral, esboço meus escritos entre algazarras e música alta, tamanha minha vontade. Tanto na santa sobriedade, quanto depois de umas doses de vinho e garrafas de cerveja; na ressaca matutina de domingo ou segunda-feira enquanto espero o elevador.


Quando tenho centenas de ocupações, se há cinco minutos para respirar, lá estou escrevendo. Se estou triste, se estou alegre: escrevo. Se estou com raiva – aí é que eu escrevo! Não que o mundo literário seja um mero divã, tenho todo amor pelas letras, pelas construções, e recursos infindáveis dessa língua tão bela que é a nossa. Mas todo impulso, ainda que piegas, é um impulso. Até doente eu escrevo. Não há resfriado que me derrube de cama por vários dias que me impeça de escrever. Uma vez que eu possa mover as mãos...e, fosse o caso escreveria com os pés.


Quem sabe, a razão disso seja porque não é preciso grande disposição e esforço físico para fazê-lo. Fato que, aliás, não me deixa aceitar que a dança, como arte, seja classificada antes da literatura. Que a dança é uma arte sem tamanho, responsável por caracterizar a cultura dos povos é justo. Mas ouso dizer, ainda assim, que a literatura deveria vir antes. Em seu devido lugar, logo depois da música – primeira arte sem qualquer objeção da minha parte, pois o próprio som, cadência, graciosidade e valor das palavras descendem dela. Mas quanto às tintas, esculturas e os holofotes. O que são e o que mostram, se não poesia em outras dimensões? Literatura está em tudo, ou mesmo no nada. Pois se a apatia me aflige, e vem uma falta de assunto, escrevo sobre o tédio (vide Spleen, o mal do século) e este consolo nunca me faltará – o de escrever. A exemplo disso, o próprio Manuel Bandeira dizia que Rubem Braga era sempre bom escritor, mas “quando não tem assunto, então, é ótimo”


E se no fim de um dia sacal, de rotina estafante, no caminho de volta para casa, um ruído, um passante, uma flor silvestre ou um gato vadio atravessam meu caminho e daquilo brota algumas linhas em prosa ou um verso qualquer, bom ou ruim, que nem sei se ou publicar...olho para aquilo e por um instante esqueço as prostrações e o cansaço e ganho fôlego pra mais um dia. Isto me faz pensar que, se não posso mudar esse mundo todo errado, do jeito que quero e instantaneamente, ao menos posso dar aos meus escritos a forma, o tom, a cor e o tema que eu quiser. E alcançar, ao menos assim, o ideal eleito. Pois esses traços no papel são o que mais me diz respeito, como uma parte de mim em eterna construção.


Lidiane Santana



sábado, 27 de março de 2010

Urban Legio Omnia Vicint


“É tão estranho Os bons morrem jovens”
- Renato Russo 27/03/1960 à 11/10/1996



É. O Trovador Solitário se foi, mas nos deixou sua linda poesia, suas belas cações, sua voz poderosa e ainda sim suave: a voz de uma geração. E não importa o que aconteça:

A LEGIÃO URBANA SEMPRE VENCE.



Como homenagem ao vocalista da maior banda do Brasil, editei frases de algumas de suas musicas.

OUÇA NO VOLUME MÁXIMO:



Urban Legio Omnia Vicint

Beberam meu sangue e não me deixam viver

Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes

Ninguém vai me dizer o que sentir

Já estou cheio de me sentir vazio

Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais

A insegurança não me ataca quando erro

Contra minha própria vontade sou teimoso, sincero
E insisto em ter vontade própria

Contra todos e contra ninguém

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei

Um dia pretendo tentar descobrir
Porque é mais forte quem sabe mentir
Não quero lembrar que eu minto também

Mentir é fácil demais

Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente

Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
A primeira vez
Sempre a última chance

Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado

Não preciso de modelos, Não preciso de heróis
Eu tenho meus amigos, E quando a vida dói
Eu tento me concentrar, N'um caminho fácil

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou

Porque o tempo é mercúrio-cromo
E tempo é tudo que somos

Até bem pouco tempo atrás
Poderíamos mudar o mundo
Quem roubou nossa coragem?

Os sonhos vêm e os sonhos vão
O resto é imperfeito.

E meus amigos parecem ter medo
De quem fala o que sentiu
De quem pensa diferente

E a vida que a gente leva não é nada igual
Aos Anúncios de Refrigerante.

E tudo aquilo contra os que sempre lutam
É exatamente tudo aquilo que eles são

Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão
Ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão
Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão

Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito

Quando se aprende a amar.
O mundo passa a ser seu.

E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?

Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã

O que é que desvirtua e ensina?
O que fizemos de nossas próprias vidas?

Vamos fazer nosso dever de casa

O sol é um só
Mas quem sabe são duas manhãs

"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder".

Me deixa ver como viver é bom
Não é a vida como está, e sim as coisas como são

Viver é uma dádiva fatal
No fim das contas, ninguém sai vivo daqui mas
Vamos com calma!

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades

Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz

E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora, ahh!
Apenas começamos.

FORÇA SEMPRE

– Marcos Roberto Moreira descobriu a força da poesia com a Legião Urbana.

sexta-feira, 26 de março de 2010

teias de aranha




Edson Bueno de Camargo

1

o ar aroma de baunilha
a casa em descanso
como se a faina do dia
constituí-se de miúdas pedras

e em cada cristal
pétalas de flores
luz branca
que nos cobre
lençol de nuvens baixas
e murmúrios


2

pássaro envolto em gravidade
(que engana)
com pena de chumbo
e convertidas em falso ouro

não voa
não trina
apenas treme de frio em um pires
expulso dos ninhos

bica os amarelos do mundo
(a seus pés)
farelos de gente ausente
(em pânico)


3

tudo bem dependurado nas árvores
em anárquica harmonia
teias de aranha
de grande arco de tempo
vergados móbiles ao dobre do ar

no fio oculto da urdidura
cose nosso destino (às cegas)

segunda-feira, 22 de março de 2010

a parte que te cabe




Edson Bueno de Camargo


para o amigo Celso de Alencar

Circe
amarrou a Ulisses
com não correntes
usou os músculos de sua vagina

mesmo estando em êxtase
a saudade de seu chão
e do cheiro do esterco das ovelhas
o chamavam para casa
e se libertou

Circe disse fica
mas Ítaca clamou mais alto

o esperava em casa
uma vagina mais mansa
e doméstica
sem grandes bailados
e malabarismos
mas que demonstrou um furor selvagem
ao se fechar aos machos
que não eram para ela

e na vingança e na morte
se abriu em sorriso
enquanto seu homem
trespassava seus adversários com flechas

nas noites que se seguiram
Ulisses não sentiu saudades
da insaciável bruxa deusa

Penélope
cansada de tecer
exigiu a parte do homem
que lhe cabia

terça-feira, 16 de março de 2010

FENDA NO TEMPO...

Numa tarde qualquer
Vejo o Outono surgir em janeiro
Tantas primaveras
De eras que eram tempo de afirmação
O ar de hoje em dia
Exala um cheiro estranho...

Tanta vida
Embutida dentro da vida
De asa partida
Não pode voar

Mas o tempo
Ainda é tempo de ida...

E essa tarde estranha
Guarda uma fenda
Que se possa enxergar
A entranha da tarde
Enigma do tempo
Maior que a contemplação
Ou o lamento,
É a Inquietação

Que com a brisa da tarde
Traz um silfo no ouvido

Aquela palavra perdida
Na noite dos séculos
Que tento em vão encontrar.



Ederson Rocha
Chris, seu bunda mole, vc é o novo administrador e nem mudou a cara disso aqui? mude as cores, a imagem... toda nova administração deve impor sua estética!
Abraços!

quinta-feira, 11 de março de 2010

não-sapatos



Cecília Camargo.

ter pés como sapatos
trilhar o infinito
despojado
livre

para quê o couro luzidio
se lhe ata a terra
sola grossa
de insensibilidade

melhor as bolhas
da percepção
lucidez dolorosa

o parto
prescinde de sapatos
explosão de vida

o amor
dispensa os sapatos
entrega

a morte
não pede sapatos
única certeza

há palavras como sapatos
apertam
ferem
mutilam

por sorte
como pés
há palavras-poesias
estas te levam
à liberdade

segunda-feira, 8 de março de 2010

Blogagem Coletiva '100 anos do Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'





Blogagem Coletiva '100 anos do Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'


domingo, 7 de março de 2010

Bota na Bunda


Dia das Mulheres...
Dia dos Namorados...
Dia das Mães...
Dia dos Pais...
Dia dos Índios...
Dia dos Negros...
Dia do Orgulho Gay...
Dia das Crianças...
Dia do Idoso...

Só não sei qual é o dia do cara que inventou esse negócio de dia.
Vou presentear a todos com sapatos neste ano e se der até 2020 visto meus amigos que comemoram seus dias.
Alguém pode me lembrar porque estes dias existem?
Levei um Chute na Bunda quando escrevi pela última vez.

Dia
Para quem
Não tem
Dia
Voz
ou
Vez
Dia
Para quem
Nada fez
Do dia

Dia de esquecer que há tantos dias para se lembrar
E depois esquecer que todos os dias vão acabar
Mas além, uma vida continua... Continua... Continua...
Na minha
Na dela
Na sua
Cela

Outro dia eu tomo a Bota e assumo o poder.
Outro dia...
Hoje é só a minha bunda que dói...
Só a minha bota que não corrói.

sexta-feira, 5 de março de 2010

OUTRAS PALAVRAS - POÉTICAS DES-DO-BRA-DAS

ESPECIAL "MÊS DA MULHER" E "MÊS DA POESIA"

Diálogo entre as diversas realidades poéticas. Palavras & trocas artísticas, leituras, performance, intervenção musical, poesia, dança, diálogo afro-caiçara-suburbano. Diálogo multi-linguagem a abordar e desdobrar o corpo, a cidade, os outros corpos, e as outras cidades.

Mestre de Cerimônia: Jacson Matos.


Convidados: Beth Brait Alvim, Claudio Willer, Edson Bueno de Camargo, Heloisa Galves, Henrique Krispim, José Geraldo Neres, Jorge de Barros, Kiusam de Oliveira, Pierina Ballarini (Projeto AURORA), grupo Percutindo Mundos: (Márcio Barreto, Fernando Santos, Paulo Infante e Carla Fá), Rádi Oliveira, Ryck Bastos, Rodrigo Basan e Zellus Machado.

Participações especiais: Olam Ein Sof (mundo medieval & cultura pagã) - Marcelo Miranda - composição, violão, mandolin e flauta. Fernanda Ferretti - violão, voz e percussão
David Suria - baixolão e voz

e, Vivian Guilherm e grupo Guardiões do Oriente


Local: CASA DA PALAVRA – ESCOLA LIVRE DE LITERATURA
PRAÇA DO CARMO, 171, CENTRO – SANTO ANDRÉ, SP
TELEFONE: (11) 4992-7218

SEXTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2010
A PARTIR DAS 19H00

http://www.overmundo.com.br/agenda/outras-palavras-poeticas-des-do-bra-das-1

quinta-feira, 4 de março de 2010

Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'

Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'

Em 2010, a comemoração do 8 de março como Dia da Mulher completa cem anos. Para celebrar essa data, que este ano é duplamente especial, convidamos a todas/os para participar da blogagem coletiva organizada pelo Alma Rubra.

O tema é: "100 anos de Dia Internacional da Mulher: celebrar o quê?". A proposta é discutir o que aconteceu no dia a dia das mulheres em 100 anos de lutas e conquistas.

Para participar, comente neste post colocando o nome e endereço do seu blog, leve o selo e poste um texto sobre o tema no seu blog no dia 8 de março.

Participe!







Mais informações sobre os 100 anos do Dia da Mulher, indicamos o "Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida" AQUI