sexta-feira, 26 de junho de 2009

por culpa dos sapateiros...

Primeiro foram sapatinhos de verniz. Amava o brilho deles, a lembrança de bonecas e laços de fita. Achou sempre que era um injustiça que não se fabricassem sapatos de verniz para adultos. Quando viu pela primeira vez um par de sapatos de adulto com aquela aparência de sapatinhos de boneca, comprou com avidez. Ela e a amiga, sentadas nos cacos de cerâmica vermelha do piso da faculdade, comparando os sapatos de boneca que elas mesmas vestiam, como se tivessem, súbito, cinco anos de novo.

Olhando para as fitas que prendiam os sapatos podia pensar que sua vida era medida por eles. O tempo dos sapatos de verniz, o tempo dos tênis de lona. O tempo dos coturnos e dos saltos Luis XV. O tempo que se dobrava em sapatilhas, sandálias rasteiras de couro vindas do nordeste. Sua vida poderia ser contada por seus pés, como se estes vivessem a parte do resto do corpo, ignorando todo o resto.

Tempo inclusive de chegar em casa descalça, pisando de leve nas meias atoalhadas para não fazer barulho.

Não são os pés o foco, mas o que os recobre. Como revestir esses pés e como mostrar para quem olha quem se é? Um sapato diz mais do que todo o resto da roupa.

Tempo de sapatinhos tricotados. Pantufas coloridas. Centenas de All Stars se acumulando - maldição de sapato que dura pouco e se gosta tanto. Botas de inverno. Reconstruções históricas. Pelúcia, couro, napa, algodão, lantejoulas. Solado de corda, borracha, plástico.

Olhou os pés. Descalços, sem espelho ou mostruário. De quem eram aqueles pés depois de tantos sapatos?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

É Chato ser Chato por não Tirar os Sapatos

Dizem que sou chato, eu admito: Sou. Mas só é chato quem gosta de o ser ou gosta de vc.




Me mandaram se calar.
Me mandaram se deter.
Me mandaram se danar.
Me mandaram se foder.

Enquanto eu vinha andando,
Ano após ano,
Pela estrada da vida
Vivida a duras penas.
Escrevi um poema,
Um lema que não gostei,
Deitei no chão, deitei.



E quando me levantei
A dor não veio...
O silêncio não veio...
Não veio o fim...
E a vida ainda toma conta de mim.


Chutei o balde,
Mas meu sapato escapou.
Chutei o balde,
Mas meu chinelo quebrou.
Chutei o balde,
Mas meu solado ralou.
Chutei o balde ou o balde me chutou?
Armei um barraco.
Mudei de nome.
Pisei no asfalto
Com o sapato
De um amigo meu,
De qual sapataria?
De qual sapateiro?
De qual alegria?
Que pela noite não veio...

Hoje estou triste!
Como quem quer morrer...
Amanhã já não sei.

Tudo é como um verso sem ritmo que se desconecta do poema e se atira na cova rasa dos seus medos aparentes.
Ando meio down,
Nado meio Out,
Vivo meio mal,
E passo em meio a arte.
Como um monstro
Que desejou saber
E agora está sendo crucificado por isto.

Tirem meus sapatos no meu enterro
E me enterrem de pé.
Quero sentir meus pés no chão eternamente.

Uma síncope se estende por uma nota dissonante que abala toda a canção do eterno exílio que criei pra mim.
Viva!
Chegou meu fim.
Atrasado como um trem
Para uma terra
Quem nem
é aqui
Nem
é aí
Nem
é de mim...

Agora vou dormir e partir.
Amanhã será outro dia para se morrer novamente.

Chris Clown Oliveira
*Imagem do Líder Apache Chato Mescalero

terça-feira, 23 de junho de 2009

NasentrelinhasdeMarceloAriel

os ossos da insônia
na biblioteca imaginária
o diálogo do outro
tensão & palavra fogo
soul de domingo
onde o ser é incendiado
silêncio
na lama cinza
cantado no mangue
estrangeiro de minhas veias
–bebe palavras–
& o fogo se desdobra
poesia na nudez blues


10demaiode2009, noite.
José Geraldo Neres.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

pele de calcanhar (sapatos famosos ausentes)

Foto Elehtrika / Andressa Barros

Edson Bueno de Camargo


para a camarada Fátima Nunes Silva

quando criança no Cariri
amiga minha
tinha os pés no chão e no pó
o sol arrepiado no quengo
criança só se podia nas horas que sobravam

dia a dia
dedos solitários
e solidários às pedras
e seus carinhos
sertão de duros espinhos
uns na carne
outros na alma
(uns nunca se esquecem)

da cacimba a casa
pote sobre a cabeça
olhos em contrição ao céu
chuva não

ter uma sola sob os pés
que não fosse dura pele de calcanhar
(chinelas bem guardadas em casa)

só em dias de feira e igreja
nas raras festas em que se celebre
não se sabe o que de alegria
(deus de olho em tudo
sem fazer nada)

um par de sandálias de tira
(destas baratinhas
de borracha sintética)
com status de calçado de luxo
lavado até o fim do branco da palmilha

a linha funda do destino
cortava a epiderme e solado
(endurecia o couro e o espírito)

até às primeiras letras foi uma luta
rebeldia e silêncio da morte
para quem come pouco
nada é tão perto

demorou muito sapato

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cindy, ói ela!

Outro dia lá estava eu andando, distraído como sempre, quando me defrontei como uma figura muito louca que me contou está história... Conscidência ou não, vai para os sapatos famosos. O cara disse:

"...Mano, liga só, no barato. A mina lá do morro do general, trampava na casa duma megera torta das idéia. Baguio loco, mano. A veía tinha duas filhas tribufa pra caralho, mano. Pareciam o cruzamento da Cuca com o Vingador. Aí, ia rolar uma parada dançante fulera na quebrada dos granfino. Todo mundo convidado. Só a mina firmeza de fora. Sacanagem. A mina lava as ropas suja, mano e nem vai comer o bregnight, tá loko. A mina é foda. Fez logo o corre dela. Levantou um vestido quente no varal da vizinha, uns sapatos descolados na loja da esquina e até um bonde no taxista, mano. Mina de atitude. Mas óh! A princesa tinha que voltar meia-noita pra casa, senão o marido dela descia o cacete nela. A gata fez mó corre, pra levar cacete de pingunço, aí não, mano. Mó injustiça, liga? A garota é ligeira e se adiantou, já deixou o esquema na fita. Meia-noite os zome cola na parada e faz blitz, para tudo e ela vaza. Mano, a mina tinha idéia. Aí, rolou um lance cabuloso. O magnata lá, cara do tráfico, cagou na mina. O cara ficou mó chato na cola dela e disse que ela era dele. Cara sinistro. Deu dez horas e o cara lá, cansando... deu onze horas e o cara cansando, quando deu meia-noite o cara viu o agito e sacou do recinto pela janela. Foi foda! Só ficou o All Star do mano. Aí, a mina vazou e trepou com o macho dela de verdade. Parecia cinema. Mas o trafica lá, mano... Não engoliu essa, não. Saiu na barberagem, pegou uns guela que deu a rota da mina. O cara colou no barraco, a mina tava pelada, mano. Cinco tiro na cabeça. Aí, ele pegou o All Star, calçou no pé... Viu que era do maluco dela. Deu mais cnco tiro pra mina não cahr que ele era machista. E saiu no rastro da sombra. Mó Romeu e Julieta. Os dois morreram abraçadinhos e pelados no chão de barro e plástico, ouvindo a sinfonia dos rato roendo as carne podre. Dia seguinte, colou a megera lá e cuspiu na cara dela porque ela não foi trabalhar. Mas mano, ela deve tá mó feliz. Deu um nó em todo mundo. Mina de conceito lá no gueto. mina de conceito..."

O cara deu trago, sorriu sussurrando a última frase. Levantou e foi embora...

Eu também fui, tava tarde pra chegar em casa. Sinistro!


Um abs do Clown

a título de provocação

SAPATEIROS!

Quem quiser contribuir para a série "sapatos famosos", à vontade.
Quem quiser convocar novos sapateiros, à vontade também. Já temos uma idosa, um obeso, um palhaço e um uspiano. Continuemos prestigiando as minorias discriminadas.

Sapatos de Auschwitz (da série "sapatos famosos", #2)


“Escrever um poema após Auschwitz é um ato de barbárie”

Adorno - 1949



escrever poema

após Auschwitz

é barbárie


mas fazer filme

sobre Auschwitz

quase garante um oscar


enquanto isso

os sapatos

esperam


não sozinhos!

ao lado deles:


sapatos de Tuol Sleng

sapatos de Kosovo

sapatos de Ruanda

pés esquecidos sob o sol do Darfur...



Jorge de Barros
(acredita que se deve relevar seus poemas, pois, quando nasceu, o mundo já não fazia sentido)




terça-feira, 16 de junho de 2009

pedra

Edson Bueno de Camargo

para Jorge de Barros

esconde a face
dos exilados
objetos em pedra

pedra-pão de duro comer
dente de cerâmica preta
e corte de obsidianas

pedra-pé
e suas plantas voltadas
faces à terra seca
ranhuras de rocha viva
famílias de pedra
nomes minerais
vermelhas

leprosários remotos
para exilar todo aquele de cepa rara
os que não coagulam
os que não coadunam
falam em língua de fogo
(como profetas)
e ferroadas de zangões

ao abandono
da palavra esfacelada
mica de pedra
sal
que se perde em graus
e os gumes de cobre

ainda seca a boca
a sílica do amargo da terra
blanco


aqui está o cálculo calcinado de enxofre
fogo PROMETido
que queima lento e doloroso

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O mistério da linguagem

Eis algumas considerações de Marilena Chaui sobre a linguagem criadora, aquela que retira a palavra de seu lugar corriqueiro, como fez Van Gogh com os sapatos dos camponeses.
...que linguagem é esta cuja força existe somente quando não se reduz a ser mera designação de coisas nem mera cópia de pensamentos? Não é a linguagem empírica e costumeira de nossa vida cotidiana, já instituída em nossa cultura. É a linguagem criadora, operante, instituinte. É a linguagem do escritor quando este imprime uma torção na linguagem existente, obriga-a a uma "deformação coerente", rouba-lhe o equilíbrio para fazê-la significar e dizer o novo. "Como o tecelão, o escritor trabalha pelo avesso: só tem a ver com a linguagem e é assim que, subitamente, encontra-se rodeado de sentido". O mistério da linguagem está em que só exprime quando se faz esquecer e só se deixa esquecer quando consegue exprimir. Quando sou cativada por um livro, não vejo letras sobre uma página, não olho sinais, mas participo de uma aventura que é pura significação e, no entanto, ele não poderia oferecer-se a mim senão como linguagem. Um livro, escreve Merleau-Ponty, é "uma máquina infernal de produzir significações".

Preguiçosamente, começo a ler um livro. Contribuo com alguns pensamentos, julgo entender o que está escrito porque conheço a língua e as coisas indicadas pelas palavras, assim como sei identificar as experiências ali relatadas. Escritor e leitor possuem o mesmo repertório disponível de palavras, coisas, fatos, experiências, depositados pela cultura instituída e sedimentados no mundo de ambos. De repente, porém, algumas palavras me "pegam". Insensivelmente, o escritor as desviou de seu sentido comum e costumeiro e elas me arrastam, como num turbilhão, para um sentido novo, que alcanço apenas graças a elas. O escritor me invade, passo a pensar de dentro dele e não apenas com ele, ele se pensa em mim ao falar em mim com palavras cujo sentido ele fez mudar; arrasta-me do instituído ao instituinte. Neste momento, uma aquisição foi feita, e o livro, doravante, pertence às significações disponíveis da cultura. Se eu também for escritora, uma tradição foi instituída e eu a recolherei para, ao retomá-la, reabrir a linguagem numa nova instituição.

Como a pintura, a literatura é retomada de uma tradição mais antiga do que ela, a do mundo perceptivo, e é abertura de uma nova tradição, a da obra como cultura. Assim como o pintor tateia entre linhas e cores para fazer surgir no visível um novo visível, assim também o escritor tateia entre sons e sinais para fazer surgir na linguagem uma nova linguagem. Essas operações instituem o mundo cultural como mundo histórico no qual o momento instituinte se enraíza no instituído, abrindo uma nova instituição, que se tornará, a seguir, instituída e uma tradição disponível para todos.
(Excerto de artigo Marilena Chaui intitulado Merleau-Ponty: a obra fecunda, Revista Cult 123, abril 2008, pp. 51 e 52)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sola Fina







Há muitas mais coisas entre eu a terra do que me diz toda a vã filosofia

Entre todas as coisas que lamento existir

Lá está você, meu amor!

Tem um buraco no meio do caminho

No meio do caminho entre eu e a terra.

Quem ri por último ri melhor

Quem não ri foi desta pra pior...


Chris Clown

DA SÉRIE... SAPATOS FAMOSOS



#1

MISSÃO CUMPRIDA!


“esse é seu beijo de adeus, cachorro!”
Muntazer al-Zaidi



haveria quem tivesse dó
haveria quem clamasse sangue
haveria quem se indignasse frente à infâmia
- patriotismos puídos surgindo do pó

na História também se entra errando
e errando nós o revelamos qual truão
o polichinelo sorrindo amarelo
- triste títere de um humor doente

erramos! mas que fazer?
fosse barata, nós acertaríamos!
sendo uma Mentira, não...


Sapatos de Muntazer al-Zaidi, Psicosapatografados por Jorge de Barros

CAMARADAS, CONVIDO-OS A CRIAR NOVOS TEXTOS PARA ESSA SÉRIE...

SAPATO DE RETALHOS


“A poesia por seu porte anárquico e sua imaterialidade traz a semente do caos. O caos é o mais primitivo dos deuses, criador e destruidor, temido pelos gregos clássicos, por imergir das águas barrentas e férteis em vida, por conter uma grande energia e potencial. A partir do caos se criaram universos.” Edson Bueno de Camargo


“A poesia é, ao meu ver, o mais alto nível que a razão chegou. Na poesia a razão não explica o sentimento, mas demonstra-o. E isto é fundamental.” Chris Clown


“Na obra de arte, põe-se em obra a verdade do ente. «Pôr» significa aqui erigir. Um ente, um par de sapatos de camponês, acede na obra ao estar na clareira do seu ser. O ser do ente acede à permanência do seu brilho.
A essência da arte seria então o por-se-em-obra da verdade do ente (das Sich-ins-Werk-Setzen der Wahrheit des Seienden). Até aqui, a arte tinha a ver com o Belo e a Beleza, e não com a verdade.
As artes que produzem obras deste gênero, por oposição às artes de manufatura que fabricam apetrechos, são chamadas belas artes. Nas belas artes não é a arte que é bela, chama-se assim porque produzem o belo. A verdade, pelo contrário, pertence à lógica. A beleza está reservada à estética.” Heidegger


"A diferença entre o Crítico de Arte e o Artista é da mesma natureza que distingue o Jogador de Futebol e o Comentarista Esportivo." Jorge de Barros


Saudações, Alício! Irmão de um palhaço de botas e ilustre sapateiro de sapatos! Seja bem vindo!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Heidegger, Martin. A Origem da Obra de Arte. Biblioteca de Filosofia Contemporânea. Edições 70. Lisboa, 1977, pp. 14-30.

Van Gogh




"Escolhemos como exemplo um apetrecho conhecido: um par de sapatos de camponês. Para a sua descrição, não é preciso ter à frente autênticas peças deste tipo de apetrechos de uso. Toda a gente os conhece. Mas como se trata de uma descrição direta, talvez seja bom facilitar a presentificação intuitiva (Veranschaulichung). Para fornecer esta ajuda, basta uma representação pictórica. Para tanto escolhemos uma conhecida pintura de Van Gogh, que pintou várias vezes calçado deste gênero. Mas o que é que há aí de especial para ver? Toda a gente sabe o que faz parte de um sapato. Se não são socos ou chanatos, há uma sola de couro e o cabedal que cobre, ajustados um ao outro por costuras e pregos. Um apetrecho deste tipo serve para calçar os pés. Consoante a serventia, se para o trabalho no campo, ou para dançar, assim diferem matéria e forma.

Estas indicações adequadas apenas explicam o que já sabemos. O ser-apetrecho do apetrecho repousa na sua serventia. Mas o que se passa com esta? Apreendemos já porventura o caráter instrumental do apetrecho? Para o conseguirmos, não temos de procurar o apetrecho que tem serventia no seu serviço? A camponesa no campo traz os sapatos. Só aqui eles são o que são. E tanto mais autenticamente o são, quanto a camponesa durante a lida pensa neles, ou olha para eles ou até mesmo os sente. Ela está de pé e anda com eles. Eis como os sapatos servem realmente. Neste processo de uso do apetrecho, o caráter instrumental de apetrecho deve realmente vir ao nosso encontro.

Enquanto, pelo contrário, tivermos presente um par de sapatos apenas em geral, ou olharmos no quadro os sapatos vazios e não usados que estão meramente aí, jamais apreenderemos o que é, na verdade, o caráter instrumental do apetrecho. A partir da pintura de Van Gogh não podemos sequer estabelecer onde se encontram estes sapatos. Em tomo deste par de sapatos de camponês, não há nada em que se integrem, a que possam pertencer, só um espaço indefinido. Nem sequer a eles estão presos torrões de terra, ou do caminho do campo, algo que pudesse denunciar a sua utilização. Um par de sapatos de camponês e nada mais. E todavia...

Na escura abertura do interior gasto dos sapatos, fita-nos a dificuldade e o cansaço dos passos do trabalhador. Na gravidade rude e sólida dos sapatos está retida a tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que se estendem até longe, sempre iguais, pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro, está a umidade e a fertilidade do solo. Sob as solas, insinua-se a solidão do caminho do campo, pela noite que cai. No apetrecho para calçar impera o apelo calado da terra, a sua muda oferta do trigo que amadurece e a sua inexplicável recusa na desolada improdutividade do campo no Inverno. Por este apetrecho passa o calado temor pela segurança do pão, a silenciosa alegria de vencer uma vez mais a miséria, a angústia do nascimento iminente e o tremor ante a ameaça da morte. Este apetrecho pertence à terra e está abrigado no mundo da camponesa. É a partir desta abrigada pertença que o próprio produto surge para o seu repousar-em-si-mesmo."

A Solapada


O Sol

A solapada

Patafisica do nada

Do réu

Do véu

Do conquetel molotov


O posto imposto ao povo no pasto

Há uma formiga sob o meu sapato

Há um sonho sobre minha cabeça

Há um trampolim para um abismo

Istmos violentados

Doentes

Sedados

Sentados no alívio

No gelo

No fim


Deus

Tem de piedade de mim!


Chris Clown Oliveira