quinta-feira, 11 de março de 2010

não-sapatos



Cecília Camargo.

ter pés como sapatos
trilhar o infinito
despojado
livre

para quê o couro luzidio
se lhe ata a terra
sola grossa
de insensibilidade

melhor as bolhas
da percepção
lucidez dolorosa

o parto
prescinde de sapatos
explosão de vida

o amor
dispensa os sapatos
entrega

a morte
não pede sapatos
única certeza

há palavras como sapatos
apertam
ferem
mutilam

por sorte
como pés
há palavras-poesias
estas te levam
à liberdade

3 comentários:

  1. Parabéns, Cecília.
    Penso que devíamos andar descalços, sentir a terra na carne, comungar homem e terra num primitivismo, ingênuo e puro. Pura poesia. Mas por que não sonhar?!
    Abraços amigos.

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  2. Quando tínhamos os pés no chão, comungávamos mais com nós mesmos.

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  3. Acho que para os pés, não há palavras.
    A poesia é o silêncio incomodado pelos grãos de terra que ele espalha.

    Que texto sensacional, Cecília.

    Bjos
    Chris "O Entorpecido"

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