quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Audição

Lá estão os dedos
Perfurados
Que perfuram
O couro
Sobre a mesa
A tesoura e o estilete
Sobre a alma
O peso de costurar o amanhã
É manhã
Como qualquer outra

Ouve o silêncio que está lá fora
Ouve!
Ouve o silêncio que pela alma corre
Ouve!
Ouve o zumbido que ecoa do ouvido
Ouve!
Ouve as máquinas no seu sem sentido
Ouve!
E canta com elas melodias tenebrosas
E ouça sua própria voz se confundindo com o motor
Ouve!
Mas não ouça os seus pensamentos
Não ouve!
Pois quando ouvi-los
Irá chorar
E pensar
O que houve de haver
E nunca haverá nada do que houve
É vida o que você perdeu nesta manhã
E amanhã?

Pegue a fôrma
A que deforma
E vejo onde seu pé se encaixa
Mas não coloque nele
Os seus sonhos
Seus pés estão sujos
Seus pés estão sujos...

Erga a cabeça
Olhe adiante
Diante da janela
É o Sol
Ele sempre brilha
Mas este vidro escuro não percebe
Não percebe
Não!

É o fim
É o fim de um futuro final
É o fim de um instante
É o fim de tudo
É o fim do expediente
E a vida só volta amanhã
De manhã
Ouve!
Não Ouve?
Não!
Não há de haver o que houve ou haverá

E o sapato em que pé está?

"Meu sapato quem será que o calçou?"

Um comentário:

  1. Muito louco, os períodos curtos criam um sensação de velocidade. Uma certa vertigem.

    Para quem não quer escrever a "sério", você se esforça bastante.

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