segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sarau da Taba - Sábado a partir das 15h00 – 04/12/2010





Sarau da Taba:

Dia 04 de dezembro, sábado, a partir das 15h00, irá acontecer o último Sarau da Taba de 2010, com o encerramento festivo das atividades da Taba, que no dia 01 de janeiro de 2011, entre fluxos e refluxos, completará 6 anos de atividade.

Acontecerá também a Noite de autógrafos dos livros dos ilustres membros da Taba, "Os que não leram Os Sertões fizeram do mesmo um livro difícil", de Aristides Theodoro e "Estilhaços Urbanos", de Macário Ohana Vangélis.

Estão desde já todos convidados a participar com sua arte, em uma agradável casa bandeirista e seu clima secular, onde todos tem voz e vez..



Local - Museu Barão de Mauá
Centro de Referência da Memória e História da Cidade
Av. Dr. Getúlio Vargas, 276 – Vila. Guarani – Mauá – SP - Telefones: 4519-6456

Sábado a partir das 15h00 – 04/12/2010





segunda-feira, 8 de novembro de 2010

“Sapatos”, poema de Charles Bukowski


Charles Bukowski | Tradução Alice Dias



quando voce é jovem
um par
de sapatos
saltos altos
femininos
apenas
sentados
bem
perto
ao teu lado
sozinhos
podem
incendiar
seus
ossos;
quando voce é velho
eles são
somente
um par
de sapatos
vazios
e
é
isso.


Fonte: http://www.literaturaemfoco.com/?p=3148

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Blogagem Coletiva - Dia de Amar Seu Corpo 2010 - 20/10/2010





Dia de Amar Seu Corpo





A partir de quando olhar um espelho passou a ser um castigo? Podemos dizer que a partir do momento que a mulher (ou sua imagem) passou a ser uma mercadoria, este martírio começou. Ora, temos um tratado de filosofia partindo do alemão Kant, que nos afirma que o ser humano não pode ser uma mercadoria porque é dotado de dignidade. Ao preço de uma imagem falsa de beleza, vende-se esta dignidade. Troca-se a emancipação pela submissão.

Dignidade, talvez esteja nela a raiz do problema, pessoas sem dignidade se submetem aos caprichos do capitalismo, do poder, e ou do falso desejo. A sociedade de consumo substitui com requintes, a opressão religiosa perpetrada contra a mulher pelas religiões monoteístas; os pilares do pensamento ocidental. O reducionismo e a focalização do sexo, a supressão do orgasmo como fonte de prazer,  a deformação estética do corpo, a criação de factóides via propaganda direta e ou indireta, através de merchandising nas novelas e blockbusters, minam a resistência crítica de qualquer uma. Já dizia Goebbels, uma mentira repetida a exaustão se torna verdade corrente. A revista Vogue, os canais tele-evangélicos, a mídia burguesa, são o Martelo das Bruxas de nosso tempo, e a determinação de biótipos é a indelével tortura, uma que penetra na alma antes mesmo do corpo.  Os carrascos somos nós mesmos, eivados de uma mentira.

A sociedade paternalista impede o crescimento espiritual e físico da humanidade. Será a mulher nossa redentora? Sim, o dia em que a mulher se emancipar completamente, não tenho sombra de dúvida, que a humanidade ascenderá para um patamar de desenvolvimento maior.
 
Hoje é dia da mulher se olhar como realmente é, e como realmente deve ser, uma criatura amada e querida, não parte da mobília, ou um eletrodoméstico que realiza todas as tarefas. Amemos nosso corpo como ele é, a perfeição é um estado de espírito. amemos o espelho porque ele é nossa real imagem.




http://duplamentevenusiana.blogspot.com/2010/10/blogagem-coletiva-dia-de-amar-seu-corpo.html

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vermelha




Edson Bueno de Camargo

a tarde cai
abrupta
e vermelha

nos subterrâneos
e nos subúrbios
em seus muros
necromantes desajeitados
geram um mundo deformado





exercício de criação 5 - Gambiarra Literária
http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/09/exercicio-de-criacao-5.html

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Babel



Edson Bueno de Camargo

esta casa
cobre minha cabeça
mas não mais me abriga


minhas pilhas
de livros pelos cantos
são ruínas
de papel






exercício de criação 4

08/09/2010

terça-feira, 31 de agosto de 2010

sombrinha de doze varas




Edson Bueno de Camargo


1

sombrinha de doze varas
sobre o pano
dormem quinquilharias

“compra senhoro”
a mulher tem cabelos brancos
e sotaque romani

a cigana insiste
guarda-chuva chinês de muitas cores
buquês de flores
transbordam cores na seda falsa

(está caro
penso
não compro)

“faz mais barato
paga diferença depois”

já não ouço mais
minha mente já está longe
rouba o cinza do céu
e dos olhos que me fitam
uma certa indiferença

2

a árvore morta
serve de moldura
a fotografia que não tiro
(esta será só com os olhos)

pequenos pássaros
na distância parecem pretos
hoje o dia está com pouca luz

3

flores de dente de leão
pedem o sol
que a tarde nos nega

sua cor destoa
do que nossos olhos esperam




4

a mangueira
tem tantas flores
que lhe pedem os galhos

não sabe a planta
não estar em um vale
ensolarado do Ghanges ou do Indo

faz o papel ambíguo
de florescer neste planalto frio
a guardar o silêncio do horizonte esbranquiçado


5

nada muda o que sinto
a tarde só fala o que está dentro de mim

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cora Coralina > Sapato velho

Não há nada que dure mais do que um sapato velho
Jogado fora.
Fica sempre carcomido.
Ressecado, embodocado,
Saliente por cima dos monturos.
Quanto tempo!
Que de chuva, que de sol,
Que de esforço, constante, invisível,
Material, atuante,
Silencioso, dia e noite,
Precisará um calçado, no lixo,
Para se decompor absolutamente,
Se desintegrar quimicamente
Em transformações de humo criador?

CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais.  São Paulo: Círculo do Livro, p. 67.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ziquizira ( ou Professor.)



Edson Bueno de Camargo

Cair da tarde, o Sol se recolhe em uma sinfonia de tons pasteis de laranja de lilases.

Num boteco qualquer ao fim da tarde, em algum lugar do Brasil, entre o centro portentoso de uma capital ou subúrbio, suas casinhas em reboque dependuradas num morro. Uma grande cidade onde todos trabalham duro, em suas fábricas fumarentas e barulhentas. Homens que não dispensam tomar umas e umas no cair da tarde. É nestes espaços modernos do sagrado, onde a velha e antiga sabedoria dos gregos se manifesta, a grandiloquência da “filosofia de botequim”, embora apregoada a sua extinção; ela perdura.

_ Ziquizira isto sim,

_ Qualé Professor, ta falando sozinho é? Pergunta Duda um funcionário de banco ao amigo de copo.

_ Ziquizira, quizumba, macumba, mau-olhado, tudo junto e mais alguma coisa. A educação das crianças no Brasil tem tanta desgraça que parece coisa feita. Sabe tipo, começou errado, e f... tudo no final.

Duda toma um gole de cerveja gelada, fita o amigo tentando entender, e em dúvida se pergunta ou não o que afligia o amigo já visivelmente alterado pelo álcool. O Professor sempre tinha boas histórias. Perguntou.

- Professor tu é um cara legal, mas de vez em sempre vem com uns assunto osso. Tem história que ficou até arrepiado. Tenho até medo de perguntar qualé a bronca; mais manda ai.

- Como estava falando amigo Duda, a educação infantil no Brasil parece que tem uma Quizila de Santo Brabo. Destas que a gente pega quando pisa em macumba e toma a cachaça do Santo. Pra começar do começo mesmo: tava todo mundo em paz e sossegado, coçando o saco e catando piolho e vieram os portugueses, encheram um navio com um monte de padre da tal Companhia de Jesus, que mal desembarcaram na praia foram rezando a primeira missa e catequizando os índios. Não perguntaram na da ninguém, foram se abancando, fundando colégio e tal. Trouxeram até a última moda em pedagogia na Europa católica, e tal de Ratio Studiorum, - Duda você não imagina, o negócio mostra até como se monta uma sala de aula, igualzinho as salas de hoje em dia. professor na frente, e os alunos todos perfiladinhos só ouvindo.

_ Mas colégio de padre tem até hoje, tem não.

_ Tem mas é diferente. Acontece meu caro amigo, que naqueles dias só tinha colégio de padre, e só um tipo de padre que tinha um acordo com o Rei da época, que é que nem presidente, mas ninguém vota; uns tais de Jesuítas, e não tinha mais nada. A coisa erra precária na estrutura, mas tinha bons professores, ensinavam latim e tupi para a moçada, isto é, para os índios na forçação de barra de torná-los todos católicos e os filhos a patrãozada. Negro não passava nem na porta, escravo era educado na ponta da chibata. É couro no couro. Tava indo até que bem, até que aconteceu a segunda desgraça.

Para, dá uma respirada, mata o último gole de cerveja, fazendo uma meia careta, pois o líquido já estava quente.

_ Õ Alemão, bota mais uma na mesa, trás uma pinga, e frita umas linguicinhas ai. Daquela bem aceboladas mesmo patrão.

O Alemão, dono do boteco, descente de bantos trazidos a força do continente africano, pensou la no fundo “Ainda dó umas bifas neste chato” e vira com um sorriso amarrotado.

_ Ta saindo.

_ Cara tu e tuas paradas técnicas. Mas já que parou memo. Dá um tempo aé que vou dá uma mijada e já volto, não começa a história ainda meu. Que história é esta de segunda c... nacional.

Voltando o Duda com a cara de aliviado e já ajuntando mais alguns membros da fauna local, o Joca militante do Psol, o Aristeu motorista de táxi, O Tonho da loja em frente que havia acabado de fechar e uns caras que ninguém conhecia, o Professor começa todo empolgado, terminando de beiçar a pinga.

_ Aí os Jesuítas que foram os donos do pedaço por mais de duzentos anos, tiveram uma treta com o Rei de Portugal, e o seu ministro o Marques de Pombal. Que da noite para o dia expulsa os padre tudo, e fecha todos os colégios, É lógica da ponta do fuzil. Cai fora ou nóis manda bala. Teve uns que tentaram bancar a parada, mas no fim quem tem mais arma tem mais razão.

_ É isso aí, tem que mandar embora mesmo, padre e tudo FDP, zoaram com a vida dos índios, tem mais é que se f... Interfere o Joca todo empolgado. Já ameaçando cantar o hino da Internacional Socialista. _ impuseram o catolicismo goela abaixo. Acabaram com a cultura nativa do país. os guaranis tão por ai pedindo esmola e tomando cola da polícia.

_ Calma ai Joca,_ fala o Professor, _ até concordo contigo, mais meu irmão acabaram com tudo, já tinha muito pouco e ficou sem nada. Tomaram os prédios e deram outras funções. Inventaram umas tais de Aulas Régias para tapar buraco, e mais nada, pouca escola foi fundada, quem era rico contratava um preceptor, mandava o filho estudar na Europa, o povão ó, ficou na mão. Lambendo pedra de sabão.

_ E o povo não se revoltou, vendo os colégios fecharem, perguntou alguém que o Professor nem viu quem foi.

_ Fizeram até um churrasco para comemorar, eles tavam tudo p. da vida com os Jesuítas, pois eles queriam transformar os índios em escravo e os padres não deixavam. Importar mão de obra da África era muito caro, Só os fazendeiros ricos do nordeste tinham dinheiro para isso. Aqui em São Paulo catava-se a indiada mesmo. Botavam fogo nos velhos, e o resto com medo virava escravo. Coisa de filme de terror velho.

_ Fazendeiros ricos do nordeste, nordeste não é tudo pobre. _ Pergunta Tonho com certa indignação de quem teve que fugir da terrinha para sobreviver.

_ É meu, naquela época a grana tava por lá, por conta da Cana-de-açúcar, aqui por baixo só tinha macaco, e mato, demorou para alguém achar ouro, ainda sim deu a maior confusão e os portugueses ficaram com a maior parte. Quem tocava as roças eram os índios e a caboclada. Fora que não tinha professor que não fosse padre, o que o Rei de Portugal não queria ver ensinando. Surgiram os tais de professores leigos, gente sem formação nenhuma, que mais faziam era a repetição do pouco que aprendiam, ensinavam os filhos dos capatazes e de pequenos comerciantes, com pouco verbo e muita pancada. Isso perdurou até a Republica meus caros amigos, e tem gente que defende a monarquia. _ Respira fundo.

_ Mudou um pouco só na vinda da família Real para o Brasil, de mala e cuia, fugindo da guerra na Europa. Só que ai veio a terceira ferradura na testa da educação no Brasil.

_ Ei não ta fazendo duzentos anos da vinda ou coisa assim. Vi um troço desta na televisão. Ó, já vô dizendo só assisto ao jornal, para saber das últimas notícias que interessam a burguesia. Não vejo novela que é coisa de alienado. _Vai Joca se justificando.

_ Pois é, _ fala Professor com o ar de quem sabe tudo, justificando o apelido _ o príncipe Regente a mãe louca, a Rainha, e um mundaréu de gente que foi se aboletando pelas casas e lugares do rio de Janeiro. Sob a proteção dos ingleses e a troco de muito ouro faz do Brasil a capital do Império. Então um monte de coisa que era proibido para a Colônia passa a ser uma necessidade. Afinal onde estudariam os filhos da nobreza, onde se formariam os médicos para curar os seus carrapatos, e os engenheiros para construir as fortalezas, afinal os franceses também tinham navios e podiam vim procurá-los. pois bem se fundam as primeiras faculdades, o Brasil cria por decreto o ensino superior sem ter escolas fundamentais. _ Toma mais um gole de cerveja, enxuga a boca coma gola da camisa e continua

_ Em outras palavras tinha faculdade para uma meia dúzia, e não tinha escola para a petizada. é claro que quem tinha grana dava um jeito na coisa. E não melhorou com a independência. Deu uma clareada na Republica, mas aí foi um tal de construir escolas, mas sem nenhuma condição de sobreviver, e sem professores, não havia a formação de professores. Sabia ler e escrever e fazer as quatro contas punham para dar aula. Vai vê que é por isso que professor é tão desprezado no nosso país. Tenho um amigo japonês que falou que no país dele professor era uma espécie de autoridade que todos chamam de sensei, tipo grande mestre. Só chamava de sensei o meu professor de judô, senão lá vinha porada. Cara apanhei feito um doido e não aprendi nada naquela época.

_ Me bateram um bocado na escola também,_ fala o Aristeu taxista, até então só ouvindo _ A gente era meio burrinho e a professora não tinha a menor dó. Diziam que era proibido bater na gente, mas vai contar em casa, o couro comia de novo. Levar bilhete para casa das professora era carregar a sentença de morte. Teve até um meio atrapalhadinho coitado, que quase pois fogo na escola para destruir um bilhete deste. ele achou que queimando o bilhete não pegava castigo. E o fogo pegou na sala de auto, um barracão de madeira.

_ Pois é estes barracões de madeira que eram as escolas da Republica. _ Emenda o Professor com medo de desviarem do assunto, afinal tinha lido a apostila do curso de pedagogia do primo dele e tinha uma baita estória para contar. _ Até que teve um grupo de peitudo que fizeram um documento em pleno Estado Novo, pedindo uma melhoria no ensino brasileiro, baseado numa tal de Escola Nova, movimento de professores no estrangeiro que demorou mas chegou no Brasil. Atrasado como sempre. Imaginem vocês que em 1932 em plena ditadura Vargas, os caras assinam um documento pedindo uma melhoria no ensino brasileiro. pois não é que em vez de cadeia, começaram até umas mudanças, bem lentas é claro. mas já se falava em Escola Normal que ensinava os professores. mas continuava o abismo entre o ensino para ricos e pobres. Podre tinha que estudar para trabalhar na fábrica, até a quarta série tava mais que bom, rico ia pro colégio e alguns faziam até faculdade, era o tal de dualismo escolar, uma escola para pobre e outra para rico.

_ E não mudou muito não né. – Alguém grita do fundo do bar.

_ É, pior é que sim, ta ruim mas tá melhor, por encreça que parível. É de chorar de dó mesmo. Lá no tempo do Império ter faculdade era um titulo de nobreza, agora eu que comecei um e não terminei, sou uma espécie de elite. me chamam até de Professor. _

Professor termina sua fala num grande silêncio, os outros já acostumados com seu jeito já vão formando outras rodinhas. Aquela noite ela não fala mais nada.

Falam da novela, do último fracasso do Coríntias, do pai que jogou a filha da janela do prédio, aliás advogado formado, nada nobre da parte dele. coisas da elite brasileira.

Professor já totalmente embriagado chora lágrimas de solidão e esperança. Faltou falar os anos podres da ditadura onde quase morreu a esperança. De atos heróicos na educação perpetrados por Paulo Freire e seus seguidores. No retorno da democracia, na nova Constituição de 1988 e da LDB – Lei de Diretrizes e Bases em 1996 fruto do esforço dos corajosos de 1932.

Professor com os olhos de vidro, no fundo tem esperança de dias melhores, sabe bem que as coisas mudam lentas mais mudam. Afinal um dia as coisas mudam; mesmo as coisas feitas, a ziquiziras mais bravas: um dia se desmancham. Os Santos olharão pela educação no Brasil. O Tempo é testemunha de tudo. E quem sabe um dia ele termina a faculdade que começou, faça parte desta mudança. Carregue com orgulho, agora não o apelido, mas o título de professor, e as pessoas o tratem, o velho bêbado, com deferência pelas ruas, como todo Professor deve ser tratado.

sábado, 17 de julho de 2010

dragão


S. Jorge (Franceschini, 1718)



Edson Bueno de Camargo

e toda profecia
que lhe saía das mãos
era uma sentença torta
epístolas postas na mesa
sem direito e direção

era festa na aldeia
ou se assemelhava
algo que voava
entre fitas lilases
e milagres de vinho e pão

e todo vento
que me chegava
era embriagado
estopa embebida em vinagre
deuses bentos em oração

e sob luz de candeias e voltas
toda a reza tinha um certo destino
olhares de menina triste
rosas verdes no parapeito
e medo de assombração

naquela noite não dormi direito
São Jorge não era meu amigo ainda
olhava-me firme junto à janela
com o cavalo empinando
e debaixo mais condescendente
com todos os seus dentes
ria de mim o dragão

terça-feira, 13 de julho de 2010

parafraseando Drummond:



Edson Bueno de Camargo

quando eu nasci
veio um saci
era para ser um anjo
que caiu de bebida na esquina
além de que seria plágio poético
(Carlos Drummond de Andrade teve a idéia primeiro)

o saci usava um velho jeans
e um all star surrado
(cadarço branco de velho punk)
não falava coisa com coisa
devia estar emaconhado brisado
sei lá
até ai
a vida não faz o menor sentido mesmo

vai edson
vai ser poeta na vida
maldisse o saci

fui peão de fábrica
tesoureiro
chefe de repartição
sindicalista
larguei a faculdade

mas fui pelas ruas
a fazer versos tortos
(imitando o Roberto Piva
que era um poeta melhor)

ah! como se pode perder o bonde da vida
se não existem mais bondes
só resta o conhaque no bar da esquina
e olhar o umbigo das moças que passam

olhar para a lua
pensando

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Contrato.




Edson Bueno de Camargo


quando me deram de comer
compraram com isso minh’alma
colocaram no fundo do prato
um contrato sem que me apercebesse

e quanto mais me fartasse
quanto maior a abundante mesa
mais partes de mim se levavam

não me sinto mais eu mesmo
há um vazio que me preenche por dentro
não há tormento,
nem angustia

só um vazio que me permeia a pele
como se esta fosse invisível
como se não fosse mais possível.



Poema publicado no livro "Poemas Do Século Passado-1982-2000", edição de autor, Mauá, SP - 2002  e  Livro da Tribo (Agenda Poética) 2004-2005 – Editora da Tribo – São Paulo-SP.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Apartheid em Mauá - SP - Brasil




Limitação de acesso à espaço público ao Fórum da cidade de Mauá-SP-Brasil.
Segregação á pessoas que não possuem graduação em Direito.

Constituição Federal de 1988, Título II, dos "Direitos e Garantias Fundamentais", o artigo 5 diz o seguinte: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" . E no inciso XV do artigo: "é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens"

domingo, 4 de julho de 2010

Antropofagia

e se parar pra pensar
pensar que nada!
dizer é questão de sentir
vida passa
é ritmia
pandemia
do ir e vir
e eu que queria
ficar estático
e observar
este devir
dogmático
antropofágico
que devora meu sentir

para muito além
o artista-poeta
com suor lapida vida
para não se mentir

Ederson Rocha

quinta-feira, 1 de julho de 2010

esquizofrenia



O GRITO -(Edvard Munch)

Edson Bueno de Camargo


dou passos ao acaso
e como diz o poeta Antonio Machado
a estrada se cria sob meus pés

sempre quis ser um artista plástico
o poeta entrou em minha vida de contrabando
junto o músico que menosprezei

o poeta é o mais persistente
dos sintomas
de minha esquizofrenia

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Entregar bêbados.



Edson Bueno de Camargo

entregar bêbados,
eis uma ingrata tarefa
enfrentar mães e esposas enfurecidas

sempre
por alguma razão desconhecida
o amigo sóbrio que devolve o bêbado
é sempre a má companhia
que o conduz a bebida

joelhos ralados
roupa salpicada de vômito
cheiro de urina nas calças
palavras balbuciadas e desconexas

realmente,
é desagradável receber um destes pacotes



(Este poema é parte de meu livro inédito "index animi" que provavelmente nunca será publicado)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

o preparo ( o último chá )



Edson Bueno de Camargo

camisas e lençóis brancos no varal
o chão e casa impecavelmente limpos
as coisas ordeiramente arranjadas
na sala e nos quartos

o jardim bem cuidado
a grama cortada

um quarto cuidadosamente trancado
tudo no exato lugar
desde o dia da morte do único filho

na cozinha
a velhinha prepara um bolo
farinha, leite, ovos, cacau e açúcar

sentado na poltrona
esperando o chá
o marido lê o último jornal

saindo do formo
aroma de chocolate

no preparo
da água fervendo no fogão
coloca com toda a delicadeza
duas colheres de raticida


(Este poema é parte de meu livro inédito "index animi" que provavelmente nunca será publicado)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

conhecer (ou anzol)




Edson Bueno de Camargo




há momentos
que somos escravos
da sede de conhecer

o peixe
morde a morte
mais por curiosidade
que por fome

Manifesto pela Cultura Viva

 Para saber mais:   http://www.culturaviva.org.br/

 

>> Clique aqui para assinar

O manifesto

Nós, cidadãos brasileiros, reconhecendo que a cultura de um povo é capaz de determinar o seu destino, convocamos a todos que se preocupam com a cultura brasileira a apoiar este manifesto. Sabemos que sua produção artística, a diversidade de sua expressão simbólica, suas relações sociais e seu imaginário são capazes de fecundar utopias e ampliar as possibilidades de atuação política deste povo. Tudo isso amplia sua capacidade de intervir e transformar sua realidade social, contribuindo para a construção de um país mais justo, mais humano e mais feliz.
Nossa cultura, gestada e enraizada nas entranhas do Brasil, é pulsante, criativa e forte. Queremos garantir esta Cultura Viva! Queremos continuar a “desesconder” o Brasil, reconhecendo e reverenciando a cultura de um povo capaz de assumir sua história e construir no presente, o futuro desejado. Queremos garantir a expressão da pluralidade brasileira, esta revolução silenciosa que fazemos, trazendo os atores de baixo para cima, na construção de uma memória presente, através das novas possibilidades de difusão e acesso à cultura.
É preciso reconhecer nossa latente criatividade e afirmar que nós, atores sociais, produzimos cultura e, portanto, fazemos a nossa história. Nesse sentido, os Pontos de Cultura cumprem um importante papel no confronto aos padrões produtivos hegemônicos, intervindo na democratização dos meios de produção e acesso à cultura, valorizando as demandas produtivas de parcelas da população que anteriormente foram alijadas do acesso ao recurso público, não sendo reconhecidas em seus direitos e possibilidades históricas. Incentiva a preservação e promove a diversidade cultural brasileira, contemplando manifestações culturais de todo o país, reconhecendo a cultura em toda a sua complexidade, desde as que ocorrem nas grandes cidades, em favelas e periferias, às que se encontram em pequenos municípios, ou em aldeias indígenas, assentamentos rurais, comunidades quilombolas e universidades. Sempre preservando a autonomia, visando o exercício máximo da potência de cada sujeito envolvido e reconhecendo os Pontos como protagonistas da sua realidade.
Por isso, estamos propondo a criação de uma Lei que garanta os princípios desta Cultura Viva e a torne uma política de Estado. Queremos a Lei Cultura Viva!
Acreditamos que os Pontos de Cultura, ao incorporarem novos atores – que reconhecidamente despertam para um novo formato de execução e disseminação de sua produção cultural – criam possibilidades históricas que aproximam esses atores sociais da dinâmica do Estado. Isso porque são eles que iniciam todas as cadeias produtivas da cultura – onde o acesso às tecnologias produtivas, é condição essencial para a participação no processo de formulação de políticas públicas plurais e afirmativas. A lei Cultura Viva visa garantir uma produção cultural criativa, que se realize de baixo para cima, potencializando desejos e criando situações de encantamento social, por meio dos Pontos de Cultura.
Defendemos a inclusão da cultura no capítulo dos direitos sociais da constituição brasileira, a implantação do sistema nacional de cultura, a ampliação e democratização do financiamento público para a atividade cultural.
Reforçamos a campanha pela Lei Cultura Viva, garantindo de maneira democrática e participativa que o reconhecimento e o apoio aos Pontos de Cultura se transformem em uma política de Estado!
Cultura como direito de cidadania e dever do Estado!
Cidadania Cultural como direito de todos!
Vamos todos juntos, unidos, abraçar esta causa!

>> Clique aqui para assinar

segunda-feira, 31 de maio de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Babel

Marcos Roberto Moreira 27/05/2010



A cidade verticalizada

arranha a boca do céu com seus edifícios
– prisões de alto-padrão
que detém a classe média atrás das grades
para sua própria proteção –

Ali
crianças trocam a várzea
por quadras de cimento batido

casais entrelaçados
ronronam baixas gemidos
“Não faço barulho
as paredes têm ouvidos!”

E enquanto o espetáculo da via alheia passa
na vidraça da torre em frente
toda gente

empilhada

amontoada

busca sua individualidade
luta por privacidade
mantendo-se o mais distante possível

com “ois” desanimados no corredor
com “silêncios” intermináveis no elevador

nessa Babel hodierna
onde cada pessoa fala uma língua
sem a mínima vontade
de fazer entender



domingo, 23 de maio de 2010

Pedra



"Deus de vez em quando me castiga. Me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra."[Adélia Prado]

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Somos Sapatos?


André Camargo

 


"Na Vida Somos como Sapatos...




Começamos jovens, belos, fortes, sem sujeiras...



Mas machucamos os calcanhares, tropeçamos, não temosm formas próprias e muito menos caracteristicas unicas...



Assim como os sapatos com o passar do tempo, mudamos, vamos nos moldando aos pés da vida...



Até que um dia já velhos, não estamos tão bonitos e nem fortes...



Mas temos experiencia, conhecemos os buracos, temos forma e caracteristicas próprias!!!



Enfim um dia assim como os sapatos somos rasgamos, furamos, ou de tão poidos somos jogados fora...



Porem Deixamos pegadas por onde passamos..." 


http://opsicofago.blogspot.com/2010/05/somos-sapatos.html

terça-feira, 11 de maio de 2010

“sonho com serpentes”


M. C. Escher


Edson Bueno de Camargo

“Sueño con serpientes, con serpientes de mar,
con cierto mar, ay, de serpientes sueño yo.”
(Silvio Rodríguez)


que se envolvem entre si
em carne viva
em exposição
em expiação sangrenta

ninho coleante
e viscoso
gangrena dos ossos
vulcão orgânico e pestilento
de ovos
de larvas
de morte lenta adiada

tenho muitos olhos
tenho muitas bocas
e muitas línguas todas bífidas
o cheiro do medo buscam

sonho que estou vivo
(quando morto)
e andando
não caminho um metro sequer
sufoco em líquido
e meus movimentos são pulmões afogados
me afundam na areia movediça
nada me conduz
sob este céu insano

falo o som das escamas
dos estalidos de pequenos ossos
e palavras
com o fogo feroz
dos olhos animais acuados
fogos fátuos
e versos metálicos da palavra réptil

“sonho com serpentes”
e estas me devoram os olhos

domingo, 18 de abril de 2010

Zabé da Loca




és como foi minha avozinha
lenço amarrado na cabeça
olhos grandes de olhar comprido
destes que devoram tudo com carinho
e cuidado
gente de granito e pés suaves
mesmo para trilha de pedras

muheres com dobras e rugas
quase uma centena de anos cansados
rostos com sombras
e o dedo com o osso apontado

mulheres de parar o vento com o silêncio
e mover pedras com o sussurrar
constroem casas com barro
cacimbas no seco
donas da terra e da água
e  aproximam o ventre do ar


senhoras que vestem o mundo
e tecem com os panos
e fiam o algodão das nuvens

ai que os anjos esfarrapados da caatinga
os anjos vaqueiros e pascentadores de bodes
os anjos moleques a tramar travessuras
os anjos de todas as partes e os afogados
e o louco poeta na margem da metrôpole

todos param para ouvir
um pedaço de cana soar as trombetas do céu







sexta-feira, 16 de abril de 2010

timoneira de naufrágios



Edson Bueno de Camargo

lendo Daniel Mazza

o poeta
coleta ossos do verbo
para que se esclareça
o tempo e palavra

a morte fuma
cachimbo de marinheiro
a fumaça entre os dentes sem lábios

velha timoneira de naufrágios
ancorada em um cais seco
nas margens do Mar de Aral

terça-feira, 6 de abril de 2010

geografia perfeita para insetos


 
 
Edson Bueno de Camargo

a sombra
desta árvore
abriga uns silêncios
expectativa
e algo mais que não se distingue


linhas do tempo dos sonhos
já não se desenham
em sua casca


estas se fazem na calçada
suas irregularidades
geografia perfeita para insetos
contam histórias aos geomantes

sexta-feira, 2 de abril de 2010

a fome


 Traudi Ingrid Meurer



Edson Bueno de Camargo


recobrou o olho
e este tinha fome
a fome insaciável dos olhos

e o olho cobrou a fome
desde os tempos imemoriais da fome

o quanto dar de comer ao olho
se este não se sacia

quanto de velhas fotografias
tanto de livros amarelos
jornais dobrados até se tornarem quebradiços
cartas de amor não correspondido
e flores e frutos secos guardados em gavetas

quanto de moedas antigas
de quinquilharias


a fome voraz de papéis velhos
e dedos envelhecidos
óculos para miopia

de tantos e todos tempos e temperos
que calaram em renascimentos

e ai se destilou o dia
com a luz coada
de olhares furtivos pela janela
e seus vidros ensebados e turvos
cor que se esmaecia

terça-feira, 30 de março de 2010

Crônica




“Esta sarna de escrever, quando pega aos cinqüenta anos, não despega mais.Na mocidade é possível curar-se um homem dela;”


Machado de Assis



Escrivaninha


Escrever é a coisa que mais me agrada entre todas as coisas. E por inúmeras razões. Uma delas é pela disponibilidade – que não leiam ‘facilidade’, escrever dá um trabalho do cão! – Bem, digo disponibilidade, pois não é preciso de grandes instrumentos ou lugares apropriados para esse nobre intento, que para mim é de um deleite indescritível. Tampouco preciso de um horário certo para exercê-lo. Acontece às vezes, da inspiração vir agitar-me na hora de dormir. Acendo a luz, debruço-me na cama mesmo e escrevo. Ou, então, se há perto algum aparelhinho mais moderno, digito ou gravo algumas idéias. Escrevo comodamente na sala, na cozinha ou em qualquer espaço da casa. Escrevo caminhando pela rua, no ônibus, no metrô e no carro, quando calam a boca (se não calam, escrevo mesmo assim). E nem preciso de um silêncio sepulcral, esboço meus escritos entre algazarras e música alta, tamanha minha vontade. Tanto na santa sobriedade, quanto depois de umas doses de vinho e garrafas de cerveja; na ressaca matutina de domingo ou segunda-feira enquanto espero o elevador.


Quando tenho centenas de ocupações, se há cinco minutos para respirar, lá estou escrevendo. Se estou triste, se estou alegre: escrevo. Se estou com raiva – aí é que eu escrevo! Não que o mundo literário seja um mero divã, tenho todo amor pelas letras, pelas construções, e recursos infindáveis dessa língua tão bela que é a nossa. Mas todo impulso, ainda que piegas, é um impulso. Até doente eu escrevo. Não há resfriado que me derrube de cama por vários dias que me impeça de escrever. Uma vez que eu possa mover as mãos...e, fosse o caso escreveria com os pés.


Quem sabe, a razão disso seja porque não é preciso grande disposição e esforço físico para fazê-lo. Fato que, aliás, não me deixa aceitar que a dança, como arte, seja classificada antes da literatura. Que a dança é uma arte sem tamanho, responsável por caracterizar a cultura dos povos é justo. Mas ouso dizer, ainda assim, que a literatura deveria vir antes. Em seu devido lugar, logo depois da música – primeira arte sem qualquer objeção da minha parte, pois o próprio som, cadência, graciosidade e valor das palavras descendem dela. Mas quanto às tintas, esculturas e os holofotes. O que são e o que mostram, se não poesia em outras dimensões? Literatura está em tudo, ou mesmo no nada. Pois se a apatia me aflige, e vem uma falta de assunto, escrevo sobre o tédio (vide Spleen, o mal do século) e este consolo nunca me faltará – o de escrever. A exemplo disso, o próprio Manuel Bandeira dizia que Rubem Braga era sempre bom escritor, mas “quando não tem assunto, então, é ótimo”


E se no fim de um dia sacal, de rotina estafante, no caminho de volta para casa, um ruído, um passante, uma flor silvestre ou um gato vadio atravessam meu caminho e daquilo brota algumas linhas em prosa ou um verso qualquer, bom ou ruim, que nem sei se ou publicar...olho para aquilo e por um instante esqueço as prostrações e o cansaço e ganho fôlego pra mais um dia. Isto me faz pensar que, se não posso mudar esse mundo todo errado, do jeito que quero e instantaneamente, ao menos posso dar aos meus escritos a forma, o tom, a cor e o tema que eu quiser. E alcançar, ao menos assim, o ideal eleito. Pois esses traços no papel são o que mais me diz respeito, como uma parte de mim em eterna construção.


Lidiane Santana