sexta-feira, 28 de maio de 2010

Babel

Marcos Roberto Moreira 27/05/2010



A cidade verticalizada

arranha a boca do céu com seus edifícios
– prisões de alto-padrão
que detém a classe média atrás das grades
para sua própria proteção –

Ali
crianças trocam a várzea
por quadras de cimento batido

casais entrelaçados
ronronam baixas gemidos
“Não faço barulho
as paredes têm ouvidos!”

E enquanto o espetáculo da via alheia passa
na vidraça da torre em frente
toda gente

empilhada

amontoada

busca sua individualidade
luta por privacidade
mantendo-se o mais distante possível

com “ois” desanimados no corredor
com “silêncios” intermináveis no elevador

nessa Babel hodierna
onde cada pessoa fala uma língua
sem a mínima vontade
de fazer entender



Um comentário:

  1. Deus inventou a linguagem e viu que era bom,

    logo veio o diabo invejoso e inventou o ruído de comunicação.

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