quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cora Coralina > Sapato velho

Não há nada que dure mais do que um sapato velho
Jogado fora.
Fica sempre carcomido.
Ressecado, embodocado,
Saliente por cima dos monturos.
Quanto tempo!
Que de chuva, que de sol,
Que de esforço, constante, invisível,
Material, atuante,
Silencioso, dia e noite,
Precisará um calçado, no lixo,
Para se decompor absolutamente,
Se desintegrar quimicamente
Em transformações de humo criador?

CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais.  São Paulo: Círculo do Livro, p. 67.

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