terça-feira, 26 de janeiro de 2010

SACIS URBANOS



foto Cecília Camargo

 by Edson Bueno de Camargo

as potestades
e as autoridades constituídas
só verão como são de fato as coisas
além de suas lunetas que só vê dinheiro:
quando o saci
lhes roubar um sapato de cada par

um dia os senhores da terra
vão acordar
e não vão encontrar um único pé esquerdo dos calçados

(neste dia
riremos de estourar as iguargas
eu e o negrinho do barrete vermelho)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Surto


O impulso traz o imprevisível
O pensamento deixa de surgir
Se antes havia compreensão de atitudes...

O que sobra
São instintos sufocados
Ante uma crise de raiva
Em que as pessoas cometem
Por coisas ridículas e ilusórias
Que insistem em prevalecer

Tira o embaçamento da lente que nada enxerga!
A vida não é flor que dura a vida inteira
Se estás no abismo, na beira
Pula que nada te resta
A vida sempre foi
E será circunstancial
Ou supera ou se sucumbe
No materialismo supérfluo
Nos tornamos ervas daninhas
Pelo ato de não enxergar o sol

A mim me basta
As atitudes ridículas
Ante o cenário da vida
Tudo enfim é circunstância pela qual vivemos,
Tudo.

Ederson Rocha

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sendeiros...

Dois lados
De uma mesma senda
Uma firme como pedra
O outro fluente flexível
Como as águas de um rio

Um é vencido pela rigidez
O outro, pelo perdão
Um almeja acordar corações
Outro, aquecer corações
E ao redor a vida
Infinito mar de possibilidades
Cheia de abismos e precipícios

A vida, um deserto
Ao longe a miragem viva do sublime
No meio, uma pedra de tropeço
Quando um busca o prazer de viver
O outro se inebria
Na beleza da canção

Caminhar é relativo
Um passo requer o uso preciso
E o calculo das probabilidades
Além das circunstâncias
Suas mentes enxergam horizontes
Não nasceram para o habitual
Lutam cada dia
Contra o olhar comum e corrente

Um demonstra o olhar da indignação
O outro revela a ausência de compaixão
E a vida ao redor os corrompe

Um se constrói daquilo que faz
Mostra-se por inteiro
E cultiva a guerra
Contra a inércia e o conformismo
Dos valores que se dissolvem

O outro
Busca com a própria vida
O ascetismo místico e utópico
Cultiva a inquietude
A aspiração da supra-consciência
A mente em constante movimento
Questionamentos
O olhar na raiz do nariz
A auto-observação de si é uma pérola
Fruto do que trazemos no peito

Antítese ou
Absurdos da reflexão
Fato consumado da sublimação
Alquimia que se funde
Na desmistificação da vida
No instante em que o absurdo é belo
E o perfeito imperfeito
Na razão dos sem razão

Enfim
Viver é uma constante luta voraz
Que ninguém escapa
E a utopia, tão sedutora
Dominou seus corações...



Ederson Rocha

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sapateados



Bem na ponta do solado

alçado da bailarina

num vôo sincronizado

paira a graça repentina.


Pula-cordas estalado

salteado que fascina

tornozelos arranhados

pés descalços de menina.


O objeto mais cobiçado

dado à ala feminina

ter centenas de calçados

tal Carlota Joaquina.


Mas, por caminhos forçados

ao lado, cruzam a esquina

o all star tosco e surrado

e o scarpin de orla fina.


Lidiane Santana

Sapato alto


(clique sobre a imagem para visualizar melhor)

Sérgio Caparelli, Ana Cláudia Gruszynski, Poesia visual (2001)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Vida em movimento

a vida
é um silêncio que nos afaga
o tempo
ilusão que nos traga
a vida
o que será que nos reserva
o curso das horas
é um instante que se dispersa

as horas
procuro traga-la, retê-la
a vida passa
assim como as horas
num eterno carrossel
e nos enlaça
como as nuvens no céu
que também passa
e encobrem o véu
sem asas!

eis que descrevo
o eterno flerte da existência em harmonia
mas os sentimentos e sentidos
estão retidos na alma
e dispersos na vida...

Ederson Rocha

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A PROFECIA


Eis aqui a profecia que ecoa 40 anos depois pelos confins da Irlanda do Norte.
Peter Robinson e sua mulher Iris Robinson no caso de adultério do momento.
O que me intriga na reportagem não é o "Adultério" - que fique claro -, mas a precisão da música do Simon & Garfunkel de 40 anos atrás. Intrigante a poesia que agora é profecia - Espero que isto seja uma exceção e não uma regra, pois Sounds of Silence é perturbadora tanto quanto é linda! Vou aprender a tocar esta música sagrada para os cultos míticos aos Deus Díoniso, não quero aborrecê-lo.

Mr. Robinson

Esta aqui é para você Senhora Robinson
Jesus te ama mais do que você jamais saberá. (Wo wo
wo).
Que Deus por favor a abençõe, Senhora Robinson,
O céu sempre reserva um lugar para os que oram
(Hey hey hey, hey hey hey).


Nós gostaríamos de saber um pouco sobre você
É para os nosso arquivos
Nós gostaríamos de te ensinar a ajudar a si mesma
Olhe ao seu redor, tudo o que voc v são olhares
simpáticos
Rode por aí
Até que você se sinta em casa.


esta aqui é para você Senhora Robinson
Jesus te ama mais do que você jamais saberá. (Wo wo
wo).
Que Deus por favor a abençõe, Senhora Robinson,
O céu sempre reserva um lugar para os que oram
(Hey hey hey, hey hey hey).


Esconda em um local secreto
Aonde ninguém nunca vai
Coloque na despensa junto com os bolinhos.
É só um segredinho, o romance dos Robinson
Mais que tudo, você precisa escondê-lo das crianças

Esta aqui é para você Senhora Robinson
Jesus te ama mais do que você jamais saberá. (Wo wo
wo).
Que Deus por favor a abençõe, Senhora Robinson,
O céu sempre reserva um lugar para os que oram
(Hey hey hey, hey hey hey).

Sentada em um sofá
Numa tarde de domingo
Indo para o debate entre os candidatos
Ria de tudo
Grite para tudo
Quando você precisa escolher
De todas as maneiras que você olhar para isso voc ê
irá perder

Por onde andará você Joe DiMaggio*
Toda uma nação está com seus olhos solitários voltados
para você


O que foi que você disse Senhora Robinson?
Que o "Joe sacolejante" partiu e desapareceu?

hey hey hey



*O Pelé do beisebol

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Aspiração e renúncia

Tantas vezes
sentir o vento soprar sobre o rosto
e ver a intensidade de afeto
que a presença de uma pessoa agradável
pode provocar


Sentir inquietude
quando um olhar vago de autenticidade
só enxerga ausência das coisas que o cerca
isso se fez meu anseio
por que real é a ausência...

Guerra jamais será algo passageiro
maldade é o manifesto eloqüente da ignorância
situações que levam pessoas à ter fome
doenças que varrem o mundo
jamais será apenas a incompetência de nossos governantes

As leis secretas da existência
sem a idéia de sublimação
sempre permanecerá ocultas...

Quando criança
o vento soprava sobre meus cabelos
e a idéia de uma ordem que em tudo que existe
era um fato
pois havia algo em que acreditava
com apenas a certeza de um olhar

Beleza é o que guardamos no fundo,
verdade
é a experiência diretas das coisas
que a vida prática insiste em desviar de nossos olhos
sobre as coisas que nos cercam...

A presença de alguém
que com afeto pronunciamos
jamais será apenas
uma massa física controlada por instintos, desejos, vontades,
um corpo que desgastado, emerge num sono profundo,
talvez seja uma luz que se apaga,
mas possa ser uma semente que futuramente nascerá...

E inquietudes sufocadas
possam surgir com mais intensidade
incredulidades possam ser descartadas
na certeza de que a vida não é um deslize
há uma grande necessidade
de se refletir sobre a causa de estarmos vivos
e questionar para onde direcionamos nossos sonhos

E a idéia de liberdade autêntica
possa ser compreendida
para que se possa admirar mais a beleza de um sorriso
quando uma criança sente a alegria
pois talvez seja isso um fragmento de felicidade
uma possibilidade de amplitude
pois real é a ausência
a ausência de tudo...

Ou o mundo se tornou estéril para a verdadeira causa da existência.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mário Quintana - eterno aprendiz





P - Você acha que Mário Quintana já está pronto, é um bom poeta?


R - Olha, eu sou um eterno aprendiz. Porque o poeta que descobre uma fórmula, ganha renome, não quer outra vida, e fica conversando com os amigos sentado em cima do muro sem se espetar, esse está perdido, porque eu acho que a poesia não é mais que a procura da poesia, como acho que também Deus se resume na procura de Deus. Eu publiquei meu primeiro livro aos 34 anos. Foi "A Rua dos Cataventos".


[Entrevista concedida à: Joana Belarmino e Lau Siqueira em 16 de janeiro de 1987]

casa dos mortos




Edson Bueno de Camargo


lendo José Carlos Mendes Brandão




a pedra canta o hino dos mortos
e de minha tíbia
faz uma flauta

o poeta encantou os meus dedos
pendurei um osso na orelha

a poesia agora sussurra
como a chuva