domingo, 16 de agosto de 2009

Sapato Só

São cem gramas de poeira
Sufocando o meu pisar
Nesta terra sem fronteira
Neste choro sem seu mar
Eu pisava
Eu sentia o meu pé se condensar
(Não aquele do sapato
Mas aquele sem seu lar)
Eu sentia uma angústia que arrepia na tristeza e na alegria e na hora que partia
Eu sentia a apatia que se ia, que se ria, que não via que perdia
Onde foi parar o outro par deste par sem par
Este ímpar par que não se acomoda
Este sapato está fora de moda
Mas e o outro que pelado está?
O que é que há?

Fui-me embora
Sou um reflexo que não se vê
Sou minha aversão
O cúmulo da contradição de se contradizer sem ao menos ser o palhaço que quero ver

Um sorriso íncolume
Ousou o condenar a força bruta
Dos olhares tenebrosos
Da dor alheia

Sou a foice que centeia
A vida além da morte

Mas meu pé toca no chão
Um que diz que sim
E outro que diz que não

Chris Clown Oliveira

3 comentários:

  1. Os últimos três versos fecham perfeitamente o poema.

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  2. Eu gostei bastantíssimo dos quatro primeiros... e interessante como ele mergulha na métrica, mas depois se desvencilha dela.

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  3. É o que gostaria que algumas pessoas entendessem, podemos usar qualquer recurso na poesia, e podemos não usar também. Desde que tudo se enquadre em um projeto, desde que cada letra seja de propósito.

    Dá um trabalho danado ser espontâneo.

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