sexta-feira, 2 de abril de 2010

a fome


 Traudi Ingrid Meurer



Edson Bueno de Camargo


recobrou o olho
e este tinha fome
a fome insaciável dos olhos

e o olho cobrou a fome
desde os tempos imemoriais da fome

o quanto dar de comer ao olho
se este não se sacia

quanto de velhas fotografias
tanto de livros amarelos
jornais dobrados até se tornarem quebradiços
cartas de amor não correspondido
e flores e frutos secos guardados em gavetas

quanto de moedas antigas
de quinquilharias


a fome voraz de papéis velhos
e dedos envelhecidos
óculos para miopia

de tantos e todos tempos e temperos
que calaram em renascimentos

e ai se destilou o dia
com a luz coada
de olhares furtivos pela janela
e seus vidros ensebados e turvos
cor que se esmaecia

5 comentários:

  1. Confesso que não resisti em fazer a centésima postagem no blogue.

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  2. Tenho fome insaciável de imagens,
    por isso sou poeta.

    Se ficasse cego,
    morreria de tristeza
    ou enlouqueceria.

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  3. Bom saber q este blog continua vivo. Meus olhos tem fome de ver postagens aqui.

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  4. E meus tem fome de ver o Cris modificando e remexendo isso aqui...
    Belo poema, Edson!

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  5. O Crís sumiu no últimos dias. Estou sentindo falta de nossas discussões insensatas e sem sentido.

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